No ninho tucano o ex-presidente Fernando Henrique sempre se destacou por enxergar mais longe que seus pares. Percebendo a oportunidade de um voo de cruzeiro da oposição em meio às tormentas políticas e aos escândalos recentes, ele decolou a candidatura do mineiro Aécio Neves à sucessão de Dilma em 2014, com a prudência e segurança necessárias, antes que outras aves de plumagem do partido tentassem, por vaidade ou apego ao poder, bicar a indicação para si. Aécio é a opção natural, todos ali há algum tempo sabem, e a estratégia de começar mais cedo a costura da aliança em torno do nome de um líder facilita a elaboração da plataforma eleitoral e dá espaço para que se construa uma unidade no discurso da oposição. Os comandantes do PSDB, FHC e Sérgio Guerra, pregam a renovação como alternativa. Renovação de propostas e de quadros. Querem o senador Aécio em campo desde já, rodando o País, vocalizando as críticas ao governo, buscando composições e angariando simpatizantes entre os eleitores. Pensam até em colocá-lo como presidente da sigla, para uma maior visibilidade, a partir da convenção que acontece em maio de 2013. Não é de hoje, o PSDB segue apático e sem rumo diante da avalanche populista do rival PT. Quer oxigenar as ideias a partir de um candidato carismático. E Aécio – campeão de votos em seu Estado, com projeção nacional e uma vivência pública que inclui até a presidência da Câmara – reúne qualidades de sobra para galvanizar de norte a sul o interesse por seu discurso. Naturalmente, o lançamento da pré-candidatura através de FHC enfrentou reações negativas, em especial da ala paulista do tucanato onde reinam aves habitués da corrida presidencial. Geraldo Alckmin, José Serra e seus comandados piaram. O governador de São Paulo classificou como precipitada a indicação. Sua análise (fica óbvio!) está contaminada pela mal velada ambição de ser, ele mesmo, o escolhido – plano também compartilhado pelo aliado eventual José Serra, ambos já derrotados fragorosamente em disputas anteriores ao cargo. Escolado no jogo da política, Aécio, como todo bom mineiro, foi cauteloso. Disse que vai escutar as bases, “Alckmin inclusive”, e só depois se posicionar. Mas até o mundo mineral sabe que a decisão já está tomada e que o voo tucano começou.