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Os mais avançados laboratórios de tecnologias de reprodução humana assistida estão voltados para a pesquisa de novos métodos para identificar os melhores embriões e o momento em que o endométrio, a mucosa que reveste o útero, está mais propício para recebê-los. Essas são as duas últimas fronteiras vislumbradas pelos especialistas para aumentar as chances de sucesso dos tratamentos de infertilidade. Atualmente, técnicas sofisticadas como a injeção de espermatozoides morfologicamente selecionados (chamada de Super-ICSI, a técnica amplia uma imagem em 6,3 mil vezes) garantem aos especialistas condições de descobrir melhores gametas masculinos para colocá-los diretamente dentro do óvulo. “A associação desse e de outros métodos já permite avançar até a fase de gerar embriões na quase totalidade dos casos”, diz o especialista em reprodução humana Jonathas Soares, do Projeto Alfa, em São Paulo. O problema é que nem todo embrião obtido no laboratório consegue se fixar dentro do útero e se desenvolver até o final da gestação. Por isso os médicos estão buscando meios de selecionar o mais apto entre todos e identificar o momento mais adequado para levá-lo da incubadora para o interior do útero – esforços que aumentam efetivamente a chance de a gravidez se desenvolver até o fim.

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FUTURO
O médico Edson Borges pesquisa substâncias que podem indicar
os embriões com maiores possibilidades de sobrevivência

Um dos recursos mais recentes para enfrentar esse desafio é o teste para avaliar o endométrio criado pelo Instituto Valenciano de Infertilidade – centro europeu com presença em 23 países. Realizado no 21º dia do ciclo fértil da mulher e antes de iniciar o tratamento, o novo exame avalia a expressão de mais de 200 genes associados à maior receptividade desse tecido ao embrião. O objetivo é determinar o momento em que o endométrio alcança as melhores condições para a fixação do embrião, uma etapa essencial para a gestação prosseguir. “Inicialmente, esse teste foi criado para mulheres que sofriam com sucessivas falhas na fase de implantação de embriões de boa qualidade, mas a tendência é de que possa ser aplicado a todas as mulheres”, diz a médica Silvana Chedid, de São Paulo, que trabalha em parceria com o centro espanhol. A previsão é de que o teste comece a ser feito no País em janeiro. Outros grupos de pesquisadores também estão à procura de marcadores endometriais com a mesma finalidade.

Conhecer o metabolismo dos embriões é outra linha de pesquisa que cresce. Em São Paulo, o pesquisador Edson Borges, da Clínica Fertility, lidera um estudo que avalia o líquido que envolve o óvulo fecundado no seu processo de desenvolvimento até a fase de blastocisto, atingida no quinto dia. Até fevereiro, Borges terá concluído 1,6 mil dessas análises. “Descobrimos que a presença de algumas moléculas nesse meio de cultivo pode revelar quais os embriões com melhores chances de sobrevivência”, afirma Borges. “Nossos estudos têm mostrado que é possível subir as taxas de sucesso com a transferência para o útero de um único embrião de 25% até um patamar superior a 90% em alguns casos”, diz. É um passo importante para reduzir o número de gestações múltiplas. O trabalho foi patrocinado pelo laboratório Merck-Serono e ainda não foi publicado em revistas especializadas, mas é considerado um avanço por outros cientistas. A Universidade Estadual de Campinas também realiza estudos com meios de cultivo com o objetivo de elevar as possibilidades de sucesso de gravidez. “O que se espera é conseguir corrigir alterações do metabolismo do embrião adaptando esse meio de cultivo”, observa o especialista Paulo Olmos, de São Paulo.

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VIDA NOVA
Mariana acompanhou o desenvolvimento
de Yasmin quando ela era ainda um embrião

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Outra forma de monitorar os embriões são as incubadoras que registram seu desenvolvimento em imagens a cada 15 minutos. O processo começa no primeiro dia para avaliar sua velocidade de multiplicação celular. Esse acompanhamento ajuda a predizer quais serão os embriões que evoluirão de maneira saudável e os que provavelmente pararão de crescer entre o terceiro e o quinto dia, em geral por causa de alterações cromossômicas (estruturas organizadas do DNA e proteínas que guardam genes). A informação é extremamente útil porque, muitas vezes, os médicos precisam transferir os embriões da incubadora para o útero antes do quinto dia. A paulistana Mariana Angelozzi se beneficiou desse recurso. “Tive dificuldade de engravidar por causa de uma endometriose grave. Mas, com apoio da tecnologia e um bom médico, consegui na primeira tentativa. Estou pronta para a próxima”, diz ela, mãe de Yasmin, de cinco meses.

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Fotos: Shutterstock; Marco Ankosqui; Kelsen Fernandes/Ag. Istoé


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