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A destituição do gestor do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo São Sebastião no dia 27 de setembro está causando indignação e muita preocupação entre os habitantes e frequentadores do litoral norte de São Paulo. Pelo menos entre aqueles com alguma consciência ambiental e que conheciam o duro e corajoso trabalho que vinha sendo feito nos 17 anos em que Edson Marques Lobato, o Fredê, ocupou o cargo.

Biólogo, crescido em São Paulo, começou sua carreira na Cetesb. Em 1995 depois da traumática morte de seu irmão e do fim de um relacionamento longo com a namorada da época, Fredê mudou-se para a praia de Camburi e passou a se dedicar à criação do Núcleo São Sebastião do Parque Estadual da Serra do Mar, um dos apêndices da unidade de conservação que zela pelos 30 mil hectares de uma das mais belas e ricas matas do País. Fredê se tornou uma espécie de xerife boa-praça, respeitado pelos moradores, mas temido por quem tentava dar o “gato” na lei. Passou a incomodar na mesma proporção com que cuidava do meio ambiente. “A lei ambiental de São Sebastião prevê a demolição sumária. Isso facilita muito o processo.” Mas também aumenta a possibilidade de arrumar inimigos. Os problemas mais frequentes eram os caçadores, palmiteiros e as construções ilegais, todos combatidos compulsivamente. “Eu derrubei muita casa de bacana, contrariei muitos interesses.” Alguns que até colocaram em risco sua segurança. “Já sofri ameaças, me ligaram, mandaram recado, mas nunca abaixei a cabeça. A gente entrava no mato e não tinha essa de ser pobre ou rico. Derrubava casa de caçador, de bacana, o que fosse ilegal e estivesse agredindo o ambiente.” Atuava também como mediador de conflitos, muitas vezes avisando e conscientizando a população dos problemas que ela causaria desmatando, matando os animais ou construindo ilegalmente.

Oficialmente, ele foi apenas um entre vários gestores demitidos ou transferidos para atender a “uma nova estratégia administrativa para agilizar processos”, como diz o comunicado da Fundação Florestal. Nem o atual gestor do parque, Gustavo Freitas Cardoso, soube explicar ao repórter Pedro Henrique Araújo (que realizou esta reportagem para uma edição especial da “Trip” sobre as praias) os motivos da mudança: “Não tenho informações administrativas suficientes”, diz. “Mas gostaria de ter.”

Apenas um dia depois de sua destituição e recolocação num cargo administrativo na Cetesb de São Sebastião, que, segundo consta, teria sido motivada por uma duvidosa e possivelmente armada acusação de que Fredê estivesse surfando em horário de trabalho (algo que ele nega veementemente), uma moção de repúdio endereçada ao secretário do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Bruno Covas, foi aberta e popularizada como “Volta, Fredê”. Até o fechamento desta edição eram 587 assinaturas.

Não conseguimos ouvir a opinião do secretário Bruno Covas, que repassou o problema a um departamento subalterno. Mas vale registrar a de outra autoridade:“Foi um Neymar que a gente perdeu para o futebol da Sibéria”, compara o secretário do Meio Ambiente de São Sebastião, Eduardo Hipólito. “Fredê criou operações que integravam setores que não se falavam. O novo gestor vai precisar de, no mínimo, cinco anos para retomar alguma coisa do que ele vinha fazendo. Foi uma falta de consideração absurda.”

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Enquanto condomínios fechados vão tentando transformar praias em clubes exclusivos, obras faraônicas e equivocadas conseguem alvarás misteriosos e gente mais simples vai sendo afastada do convívio praiano e se empoleirando em favelas, o meio ambiente e as coisas boas que a praia costuma gerar vão sofrendo. E vai sendo criado um caldo de cultura perfeito para proliferar a indignação pela desigualdade, a violência e os crimes de todos os tipos. Exatamente como fizemos com as cidades.

*Reportagem Pedro Henrique Araújo
A coluna de Paulo Lima, fundador da editora Trip, é publicada quinzenalmente


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