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SEM PRESTÍGIO
Yoshihiko Noda, premiê do Japão, faz campanha em Fukushima

Yoshihiko Noda, primeiro-ministro do Japão, tem tudo para não ser reeleito. Mesmo assim, não hesitou em dissolver a Câmara Baixa do Parlamento e antecipar as eleições para o domingo 16. O movimento “kamikaze” foi resultado de um acordo com os principais partidos da oposição para a emissão de títulos que cubram o déficit orçamentário e a aprovação de uma reforma tributária e do sistema eleitoral. Como a coalizão do impopular governo Noda não tem maioria na Câmara, o compromisso com os adversários políticos foi a saída encontrada pelo premiê para evitar uma versão japonesa do “abismo fiscal” enfrentado pelos Estados Unidos. O Japão está à beira da terceira recessão desde o colapso do banco Lehman Brothers, em 2009, e, no período, viu o déficit no Orçamento quintuplicar. De bandeja, Noda deve entregar o poder de volta ao conservador Partido Liberal Democrata (PLD), que governou o país durante 50 anos quase ininterruptos. Essa será a sétima troca de poder no Japão em seis anos, mas as pesquisas de opinião indicam que o próximo premiê será um velho conhecido: Shinzo Abe, líder do PLD, que governou entre 2006 e 2007.

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SEGUNDA CHANCE
Shinzo Abe, líder conservador, deve voltar
ao poder seis anos depois de abandoná-lo

Para Jeffrey Kingston, coordenador de estudos asiáticos da Universidade de Temple em Tóquio, “as pessoas estão muito desapontadas com o atual governo e sentem que o Partido Democrático do Japão (PDJ) não entregou o que prometeu”. Mas Shinzo Abe também não empolga. “Ele é lembrado por sua mediocridade e por não ter noção do que preocupa o povo”, afirmou Kingston à ISTOÉ. “É provável que Abe mostre sua verdadeira face – mais à direita – desta vez”, afirma Koichi Nakano, professor de ciência política da Universidade de Sophia. “É raro no Japão que um antigo premiê tenha uma segunda chance e ele certamente gostaria de deixar seu nome na história, seguindo sua própria agenda de políticas nacionalistas.” A guinada à direita inclui o aumento dos gastos da Defesa, o que pode deteriorar ainda mais as relações com a China, já bastante desgastadas pela disputa pelas ilhas Senkaku. Além disso, o futuro da energia nuclear e o religamento de reatores estão no centro da campanha, um ano e meio após o desastre de Fukushima, que forçou 160 mil pessoas a deixar suas casas. “O interessante é que todos os partidos, menos o PLD, têm um projeto para reduzir ou encerrar as atividades dos reatores nucleares”, disse à ISTOÉ Sheila Smith, especialista em Japão do Council on Foreign Relations. “Por isso, estou curiosa para saber quanto essa questão pode influenciar os votos.” 

Fotos: KAZUHIRO NOGI/AFP PHOTO; Issei Kato/REUTERS