Na terra do Marlboro, quem brilha é um cisco de empresa que promete perturbar a Philip Morris, a décima empresa dos Estados Unidos, com faturamento anual de US$ 72 bilhões. Chama-se Vector, nunca apareceu na lista das maiores da revista Fortune, fica em Durham, na Carolina do Norte, e em Miami, na Flórida, tem apenas 1,5% do mercado de tabaco e promete para setembro um lançamento que está dando dor de cabeça em seus gigantes adversários: o cigarro sem nicotina, teoricamente menos danoso à saúde. A marca Quest chegará ao mercado americano em setembro, nas versões Lights e Menthol Lights, com uma campanha de propaganda e marketing orçada em US$ 40 milhões. O trunfo que enlouquece os concorrentes: a nova marca contém um nível muito reduzido de nitrosimina, conhecida como NNK, substância apontada
como a principal causadora de câncer no pulmão. Para os fumantes renitentes, a informação preciosa de que o fato de ser “nicotine-free” não altera o sabor do cigarro. Para os antitabagistas, a novidade
é mais um veneno: pode desestimular os interessados em parar
de fumar e, pior, seduzir não-fumantes.

Não é a primeira investida da Vector neste terreno minado. No ano passado, a empresa lançou a marca Omni, o primeiro cigarro com redução de cancerígenos do mercado mundial. O nível de nicotina do Omni está, segundo especialistas, abaixo do nível que provoca o vício: 0,24 miligrama (o Marlboro tradicional tem 1,0). O presidente do grupo, Bennett S. LeBow, que deixou de ser fumante (de dois maços por dia) há 30 anos, se interessou pelo projeto em 1997, quando leu um relatório sobre a patente do cigarro livre de nicotina. Especulador do mercado financeiro que comprou a Liggett em 1986, ele acabou conseguindo negociar os direitos da invenção de Mark Conkling, biólogo molecular especializado em plantas geneticamente modificadas, para o mundo todo. De quebra, levou Conkling para trabalhar na Vector.

Os gigantes do setor não perdoam a ousadia de Mr. LeBow, mesmo porque todos estão correndo em busca de uma salvação para a indústria considerada globalmente maldita. O titã Philip Morris à frente e seus dois principais concorrentes, Reynolds e Brown & Williamson, intensificaram suas pesquisas em busca de um cigarro menos prejudicial à saúde. Espiões da Philip Morris teriam até se apropriado de sementes geneticamente modificadas de tabaco e desenvolvidas pela Vector em pequenas fazendas da Argentina. A empresa negou a espionagem, mas usou seu poderio para convencer as autoridades locais a não permitir o cultivo de tabaco modificado geneticamente. Como a Vector não havia requerido a aprovação oficial e o país já estava em crise, as autoridades da Argentina aproveitaram a deixa para mandar queimar todas as plantações de tabaco geneticamente modificado. Alguns pequenos agricultores enfrentaram as pressões e continuam plantando para a Vector, que também tem contratos com fazendas da Pensilvania, Illinois, Louisiana e Mississipi.

A tecnologia da Vector ninguém sabe, claro. O que se sabe é que os cientistas da empresa descobriram um caminho para anular um gene da raiz do tabaco que é crítico à produção de nicotina. Ao mesmo tempo, seus cientistas descobriram como remover cancerígenos de segunda classe da fumaça do cigarro através de uma mistura química que inclui
o metal paládio. Juntando as duas tecnologias, a Vector acredita que está fazendo um produto que não vicia e reduz dois dos mais potentes cancerígenos contidos no cigarro. É menos pernicioso à saúde e pode
até reduzir as taxas de câncer entre fumantes, confirmaram
especialistas nos efeitos do cigarro na saúde do fumante, da
Universidade da Califórnia, em San Diego.

Com o lançamento do Quest, a Vector criou uma nova empresa, a
Liggett Vector Brands Inc., uma combinação das áreas de vendas e marketing do Liggett Group e Vector Tobacco. Segundo analistas do setor, o cigarro sem nicotina pode proporcionar um grande impulso à empresa no mercado. É uma revolução na indústria. Não tem nicotina, não torna saudável o hábito de fumar e ainda pode prejudicar a
saúde financeira dos gigantes do setor.

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