André Cavenaghi, 31 anos, comerciante, tirou o brevê de piloto aos 16 anos. José Ramalho, 41 anos, autor de livros de informática, tem uma coleção de cem maquetes de aviões. Aficcionada por aeroplanos, o sonho da dupla sempre foi visitar a Airventure, em Oshkosh, Estados Unidos, feira que reúne anualmente aeronaves de todos os tamanhos e nacionalidades, e gente maluca por elas. Entre 23 e 26 de julho, Cavenaghi e Ramalho vão finalmente pisar em Oshkosh. Só que a viagem ficou mais longa. A Airventure virou pit stop de uma ousada empreitada: voar 40 mil quilômetros com um monomotor sobre 23 países das Américas e Caribe. Por pura coincidência, o mesmo trajeto que aves migratórias, como o maçarico, percorrem entre o Alaska e a Patagônia, em busca de sol, água e comida, Cavenaghi e Ramalho vão percorrer em 45 dias na busca de adrenalina. Eles partem de São Paulo, no dia 10 de julho, equipados com kits de sobrevivência que incluem até ração para cachorro como alimento.

“A vida começa depois dos 40”, exulta Ramalho. Para a maior aventura de suas vidas, eles usaram bifes para aprender a fazer suturas, simularam pousos e decolagens com a ajuda do programa de computador Flight Simulator, sobrevoaram as regiões do roteiro e tiraram lições valiosas. Uma delas é nunca guardar peixe fresco no avião ao estacionar no Alaska. Um amigo teve o veículo destroçado por um urso depois de colocar no bagageiro o salmão que havia pescado. O Alaska e a Patagônia, com rajadas de vento que atingem velocidade de até 100 km/h, serão os maiores desafios. O plano A é não pousar se o tempo estiver ruim. O plano B é não decolar. O plano C é voltar para casa. Como uma experiência desse porte não tem graça se ninguém fica sabendo, eles levam na bagagem parafernálias tecnológicas que garantiram o patrocínio da aventura e vão permitir seu registro em tempo real. Um notebook Pentium 4, com 64 megabites de memória para edição de vídeo; três telefones celulares, um operado por satélite e dois com tecnologia GSM para transmissão de dados em alta velocidade; dois computadores de mão e uma microcâmera digital. As transmissões poderão ser acessadas no site www.voltadasaméricas.com.br., que exibirá a posição do avião em tempo real e terá narrações diárias. Parte das fotos das viagens serão feitas por crianças. O trabalho será transformado em cartões-postais e calendários e a renda de sua comercialização será doada à Unicef. Para a família e os amigos, eles já viraram heróis. Quando voltarem para casa, vai ter festinha, churrasco e muita história pra contar.