O Palácio do Planalto recorreu à
fisiologia para garantir os votos que assegurassem a aprovação da coligação do candidato José Serra (PSDB) com o PMDB na convenção do partido, no sábado 15, em Brasília. Em meio a uma grave crise econômica, o governo prometeu liberar verbas públicas e preencher os cargos vagos dentro do segundo e terceiro escalões na Esplanada dos Ministérios. A pressão por cargos e verbas começou na semana passada, com os peemedebistas cultivando no noticiário incertezas sobre a aprovação da aliança com os tucanos. Além da cúpula do PMDB, entraram no jogo do toma-lá-dá-cá o comando do PSDB, o presidente Fernando Henrique Cardoso, Serra, a candidata a vice, Rita Camata (PMDB-ES) e o ministro Pedro Parente, chefe da Casa Civil da Presidência.

Na terça-feira 11, o próprio FHC se encarregou de ligar para os rebeldes peemedebistas de Goiás, que ameaçavam votar contra a coligação e eram capitaneados por Iris Resende (PMDB), ex-ministro da Justiça. Resende, cujo inimigo político no Estado é o governador Marconi Perillo (PSDB), exigiu que o governo federal se mantivesse distante na disputa entre os dois partidos em Goiás. Os peemedebistas pediram igualdade na liberação de verbas e conseguiram brecar uma montanha de dinheiro –
R$ 200 milhões – que o governo federal iria antecipar ao tucano Perillo pela federalização da companhia elétrica do Estado. “Nós queremos equidistância política e administrativa. Por que este dinheiro agora, às vésperas da eleição?”, cobrou Iris, que acabou se compondo com o governo federal. A promessa de FHC à cúpula do PMDB, de que iria começar a liberação de verbas do orçamento após aprovada a prorrogação da CPMF, provocou uma romaria de deputados e senadores aos gabinetes dos líderes do partido. Um dos plantonistas no gabinete do líder Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) era o deputado João Magalhães (PMDB-MG): “Não dá para votar em quem não libera minhas emendas”, protestava. “O compromisso do presidente é liberar os restos a pagar de 2001 e as emendas individuais de 2002 depois da CPMF”, repetia Geddel aos deputados que o procuravam. Ele se referia aos cerca de R$ 6 bilhões de emendas paroquiais do ano passado e aos R$ 17 bilhões previstos no orçamento de 2002. As emendas eleitoreiras, entretanto, correm contra o calendário. Pela lei, os recursos orçamentários só podem ser liberados até o dia 4 de julho. “Estou na torcida para que o dinheiro seja liberado”, disse o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS), candidato à reeleição em seu Estado. Tebet foi um dos mais bem aquinhoados na liberação de recursos públicos, com R$ 1,2 milhão para sua cidade natal, Três Lagoas, e com R$ 2,6 milhões para a capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande.

Ajudas – Os cofres da Secretaria de Desenvolvimento Urbano se abriram com critérios nitidamente políticos. Comandada pelo ministro Ovídio de Angelis (PSDB-GO), a pasta liberou R$ 30 milhões em apenas seis horas na terça-feira 11. Exatamente o dobro do que havia despendido nos primeiros seis meses deste ano. O senador Carlos Bezerra (PMDB-MT), indefinido quanto à aliança com os tucanos, também aproveitou o momento para incluir na discussão da aliança o compromisso pela liberação de R$ 20 milhões de recursos para o seu Estado. Os senadores Nabor Junior (AC) e Amir Lando (RO), ambos do PMDB, tentaram arrancar de Serra compromissos para financiamento de campanha. “O PSDB ficou todo no governo do PT e os palanques do Acre serão do Lula”, queixou-se o senador Nabor. “Se não houver ajuda para campanha, volto a ser um senador de oposição”, ameaçou Lando, candidato ao governo de Rondônia. Rita Camata ligou para todos os convencionais e um deles chegou a pedir a concessão de um canal de televisão. Rita fingiu que não era com ela. O governador Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE) irá indicar o novo presidente da Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene), que tem um orçamento de R$ 49 milhões, e o senador Gilberto Mestrinho (PMDB-AM) concordou em dar seus votos na convenção em troca de uma diretoria da nova Agência de Desenvolvimento da Amazônia (ADA). Os dissidentes do PMDB ensaiaram uma inócua reação. Com o apoio, entre outros, do ex-governador Orestes Quércia (SP), lançaram o nome do senador Roberto Requião (PMDB-PR) à Presidência e criticaram os métodos do governo: “É evidente que estão comprando voto. É descaramento. Estão usando a máquina do governo, dinheiro que pertence ao povo”, protestou o ex-presidente do partido Paes de Andrade (CE).