O eleitorado brasileiro calçou as chuteiras para assistir à Seleção de Felipão nos gramados do outro lado do mundo, ignorou a alta do dólar, a queda das Bolsas, o aumento do risco-Brasil e a mudança nos fundos de investimentos, chamada por muitos de confisco. Está sob o efeito Copa do Mundo e pouco se interessa pelas eleições que decidirão o novo presidente do País. É o que indica a segunda pesquisa nacional ISTOÉ/ Toledo & Associados realizada entre os dias 7 e 9 de junho. Não houve alteração nos resultados. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua na liderança com 40,5% das intenções, seguido por José Serra (PSDB) com 23,3%. Em terceiro, se mantém Ciro Gomes (PPS) com 12,1%. Garotinho (PSB) vem logo atrás com 10,5% na preferência do eleitor. Enéas (Prona) registra 2,3% e o candidato do PSTU, não incluído na pesquisa anterior, está com 0,4%. O crescimento de 1,1% de Lula e de 0,5% de Serra, assim como o ligeiro sobe-e-desce dos demais avaliados, é anulado pela margem de erro da pesquisa, que é de 1,73%.

Sem política – A novidade do estudo – realizado em 27 capitais e 126 cidades, ouvindo em domicílio 3.227 pessoas – está na escolha dos evangélicos e dos católicos. Lula, Garotinho e Serra são os preferidos dos evangélicos, com 29,4%, 29,2% e 20,1%, respectivamente. O petista abre mais espaço junto à grande massa de 73% dos entrevistados que se definiram como católicos: 42% declaram seu voto a Lula. José Serra recebeu 25,3% das intenções; Ciro Gomes, 12,7%; e Garotinho, 7,4%. Apesar das oscilações pouco significativas na pesquisa, o fato de o candidato do PPS, Ciro Gomes, continuar como a segunda escolha de 25,1% dos entrevistados e a leve queda de Lula nos índices de rejeição, passou de 24,9% para 22,9%, o que não elimina a possibilidade de um segundo turno, são dois aspectos da amostra considerados importantes pelo diretor-geral do instituto, o sociólogo Francisco José de Toledo. “A Copa está neutralizando as tensões. Quem não pensa em política está pensando menos ainda”, ressalta ele.

Mesmo com a paixão da população pelo futebol, as articulações rumo
às eleições não foram escanteadas do lado de cá do mundo. Na quinta-feira 12, Dia dos Namorados, PT e PSDB intensificaram o assédio aos cobiçados PL, PMDB, PFL e PPB. O governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), que apóia Lula, avalizou o encontro do petista com o senador José Alencar em Belo Horizonte. O dote oferecido na intenção de formalizar o casamento do PT com o PL é a vaga de vice para Alencar
na chapa de Lula. Os nós que impedem o enlace estão sendo desatados aos poucos. O prefeito de Manaus, Alfredo Nascimento (PL), disse sim à união após o fechamento de acordos regionais. Os afagos ao tucano
José Serra também vieram de várias frentes. Capitaneados pelo ministro do Trabalho, Francisco Dornelles, 14 diretórios regionais do PPB fecharam com o tucano. Em seguida, foi a vez de o PFL de Pernambuco discutir,
em almoço promovido pelo vice-presidente da República, Marco Maciel,
a adesão a Serra. À tarde, o PMDB gaúcho iniciou uma aproximação ao candidato do PSDB. Ciro Gomes é o único que já assegurou em
convenção o apoio do PDT e do PTB a seu nome.

Assim como o quadro de alianças começa a mostrar seu contorno, o eleitor, aos poucos, vai se agregando ao grupo dos que já têm
candidato. Em maio, por exemplo, 54% dos entrevistados não haviam escolhido um nome. Nesta segunda rodada, este índice caiu para 47%.
A maioria das 1.640 mulheres entrevistadas (53,5%) não decidiu em
quem votar. Já 48% dos 1.587 homens pesquisados já têm candidato. Dentre os entrevistados da classe E, mais da metade (59,1%) não sabe qual é o candidato em quem vai votar. Nos três cenários para o segundo turno, todos eles com Lula, o petista vence os confrontos contra Serra, contra Garotinho e contra Ciro. A diferença entre eles e o candidato do PT é de 10,2, 20,6 e 16,4 pontos porcentuais respectivamente. Toledo acredita que após a Copa os números sofrerão oscilações. A entrada de Rita Camata (PMDB) na chapa do tucano José Serra ainda não tem reflexos nas pesquisas. “E ela será positiva”, disse Toledo. De uma base de entrevistados de 1.285, 78% afirmaram que a escolha do candidato é definitiva. Enquanto isso, 21% admitem que podem pular a cerca e mudar de lado. Fidelidade total do eleitorado só mesmo nas madrugadas com
a Seleção de Felipão.