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Milhares de partidários do presidente egípcio, Mohamed Mursi, expulsaram nesta quarta-feira os opositores que estavam diante do palácio presidencial do Cairo, um dia depois de manifestações sem precedentes desde a revolta de 2011.

Os partidários do presidente islamita, convocados a se manifestar pela Irmandade Muçulmana, jogaram pedras e obrigaram os opositores a abandonar o lugar, sem que fossem registrados incidentes mais graves.

A oposição, que mobilizou milhares de pessoas na terça-feira em frente ao palácio no bairro de Heliópolis, havia convocado novos protestos para denunciar a ampliação dos poderes de Mursi e o referendo sobre o projeto de Constituição.

"Se a Irmandade Muçulmana não nos atacar, tudo ficará bem", declarou à AFP Mohamed Waked, porta-voz da Frente Nacional pela Justiça e a Democracia. "Se isso não acontecer, Mursi será responsabilizado".

Momentos antes, a Irmandade Muçulmana fez um apelo a seus partidários "para defender a legitimidade" do presidente contra os opositores que buscam "impor suas opiniões à força".

Em Bruxelas, a secretária de Estado americana, Hillary Clinton, considerou que os "distúrbios que acontecem atualmente demonstram a necessidade urgente de um diálogo" entre as partes rivais.

Até então, os dois lados haviam se manifestado em locais e momentos diferentes, a dez dias de um polêmico referendo sobre o novo projeto de Constituição, que exacerbou as divisões no Egito.

Nesta tarde, o vice-presidente egípcio, Mahmud Mekki, anunciou que o referendo previsto para o dia 15 de dezembro será mantido, apesar dos protestos. A consulta será realizada "na data prevista", afirmou Mekki à imprensa. Ele pediu que a oposição deixe por escrito as suas críticas para que possam ser examinadas.

Contágio

Os manifestantes que exigem a saída de Mursi haviam derrubado as grades de proteção instaladas em torno do prédio, e a polícia de choque tentou dispersar os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo, mas não conseguiu. Centenas dentre eles pernoitaram em frente ao palácio Ittihadiya, que estava com seus muros cobertos com pichações anti-Mursi. No entanto, o presidente voltou para o local nesta manhã para trabalhar, segundo um de seus conselheiros.

As manifestações de terça são as maiores de uma série de protestos contra o Mursi, o primeiro chefe de Estado civil e islamita eleito em junho passado.

Confrontos e protestos também ocorreram em outras importantes cidades, como Alexandria (norte), assim como nas províncias de Minya e Sohag (centro). Os adversários de Mursi denunciam a guinada autoritária do presidente e pedem a anulação do decreto que amplia consideravelmente seus poderes. Também protestam contra um projeto de Constituição, que será submetido a referendo em 15 de dezembro, porque consideram que abre caminho para uma aplicação ainda mais rígida da lei islâmica e não dá garantias suficientes para proteger os direitos fundamentais, entre eles a liberdade de expressão. Centenas de outros opositores de Mursi passaram a noite na Praça Tahrir, em dezenas de barracas montadas no dia 23 de novembro.

O presidente egípcio assegura que estas medidas são destinadas a acelerar a transição democrática, e insiste que seus poderes excepcionais, que devem terminar com a aprovação da Constituição, são apenas "temporários".

A Frente de Saudação Nacional – coalizão de partidos e movimentos de oposição dirigida pelo ex-chefe da AIEA Mohamed ElBaradei e pelo ex-chefe da Liga Árabe Amr Moussa – exige que Mursi anule o decreto e o referendo. Ela pede a formação de uma nova comissão constituinte mais representativa da sociedade, já que a atual é dominada por islamitas.