Em um País onde o voto custa caro e a ordem é não perder mais uma eleição, o resultado para o PT e o governo Lula não podia ser outro. A CPI que abalou o Brasil: os bastidores da imprensa e os segredos do PT, livro do jornalista Leonardo Attuch – editor de Economia da ISTOÉ Dinheiro – lançado nacionalmente pela editora Futura (140 págs., R$ 24,90), na última semana, mergulha fundo nas investigações sobre o caixa 2 do partido e mostra como as sementes da destruição germinaram em campo fértil antes e durante o governo Lula. Com ajuda de duas figuras centrais no sistema de arrecadação “não contabilizada”, Attuch conta fatos inéditos do escândalo que fez desmoronar o patrimônio ético do PT. Entre as mais saborosas histórias contadas por Attuch, está a de Sílvio Pereira, ex-secretário geral do PT. A estrutura de arrecadação montada pelo tesoureiro Delúbio Soares não impediu um incidente.

“O comitê financeiro notou a falta de R$ 50 mil depois que Sílvio Pereira cumpriu uma dessas missões especiais em uma grande empresa. Silvinho teve de se explicar, e justificou a ausência dando conta de que o dinheiro havia sido usado na eleição de alguns de seus candidatos a deputado federal – ele arrecadava dinheiro para as campanhas de Lula e de parlamentares como José Dirceu. Ficou por isso mesmo, mas depois daquele episódio passou a ser marcado sob pressão.”

Ao relatar a respeito do fogo amigo, ateado por José Dirceu, Antônio Palocci e Luiz Gushiken para fritar Delúbio, Attuch escreve sobre um episódio inédito, registrado no segundo semestre de 2004. Depois de 15 anos que fora apeado do poder por envolvimento em corrupção, o ex-presidente Fernando Collor tentou uma aproximação com o PT para repatriar recursos no Exterior – as sobras de campanha de 1989 foram de US$ 45 milhões – e deixar parte do bolo com o PT. Cristiano Paz, sócio de Marcos Valério na SMP&B, levou a proposta. Delúbio não concordou e dias depois passou a ser comparado por Collor a PC Farias.

A política da boa vizinhança com o BMG começa em 2003, na Churrascaria Porcão, em Brasília, quando Delúbio comemorava seu aniversário. Valério pediu ao
então ministro José Dirceu que cumprimentasse os banqueiros mineiros do
BMG e do Rural.

“Foi naquele momento que Dirceu comentou o caso de Maria Ângela Saragoza, sua ex-mulher, que necessitava de emprego. Foi quase uma ordem.”

Conta o jornalista que, na mesma hora, Valério falou com o dono do BMG. Maria Ângela foi contratada no mesmo mês pelo banco como psicóloga.