Esta foi uma vitória dos passageiros que têm medo de avião: a TAM vai devolver a cinco empresas internacionais de leasing 21 Fokker-100, assim que esses aviões estiverem prontos (sem a pintura da companhia brasileira). A empresa não admite que a devolução foi decidida (e anunciada na segunda-feira 16) em consequência do impacto causado pelos quatro acidentes ocorridos em menos de 15 dias. Não foram quatro, foram dois, segundo a assessoria de imprensa da TAM. “Os outros foram incidentes.” Quem estava dentro dos aviões é que sabe a palavra certa para definir o susto. O último, na quarta-feira 11, aconteceu num vôo de Buenos Aires para São Paulo em que o piloto foi obrigado a fazer um pouso forçado em Pelotas, no Rio Grande do Sul, depois de perceber uma vibração na turbina causada por formação de gelo. Antes, e em um único dia, na sexta-feira 30, dois Fokkers puseram à prova o coração de seus passageiros: o primeiro, às 10h45, desceu em uma fazenda em Birigui, interior de São Paulo, por falta de combustível.

Pouco antes do meio-dia da mesma sexta-feira, outro Fokker fez uma aterrissagem de barriga no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, por problemas no trem de pouso. Em 9 de setembro, uma porta apresentou problemas quando o avião pousou em Corumbá. Pode-se dizer que não é nada, mas para quem tem medo de avião é um péssimo presságio. Sem contar o acidente (ou seria incidente?) de abril, quando uma das portas laterais abriu em pleno vôo entre Rio e Porto Alegre.

A decisão de devolver 42% da frota de Fokker-100 (os outros, diz a assessoria de imprensa da empresa, serão devolvidos até 2007) foi simultânea ao anúncio da demissão de 524 funcionários (7% do total) e da suspensão da rota para nove cidades a partir desta segunda-feira, 23. A empresa não voará mais para Caxias do Sul (RS), Criciúma (SC), Araçatuba (SP), Sorocaba (SP), São José dos Campos (SP), Corumbá (MT), Presidente Prudente (SP), Navegantes (SC) e Ji-Paraná (RO). A TAM explicou que está reformulando sua malha aérea e aumentando sua frota para aumentar a rentabilidade em rotas com maior densidade de passageiros. A estratégia, oficialmente, prevê maior concentração das operações em aviões Airbus e uma redução de 12% na oferta de assentos. “A reformulação da malha tem como objetivo elevar a rentabilidade da operação da TAM, aumentando a média de produtividade em suas aeronaves. A medida também reduz despesa s fixas da companhia”, diz a nota oficial. Com isso, a empresa afirma estar adequando sua estrutura à conjuntura nacional e internacional: baixo nível de atividade da economia brasileira, crescimento do movimento aéreo aquém do esperado, elevação constante do preço do combustível e variação cambial.

A Associação dos Tripulantes da TAM (ATT), que representa mais de dois mil pilotos e comissários, também em nota oficial diz que está buscando soluções e alternativas para que o impacto dessa reestruturação seja o menor possível para a vida dos tripulantes afastados, inclusive dando suporte à recolocação desses profissionais em companhias aéreas internacionais, dada a retração no mercado de trabalho no setor aéreo brasileiro. A diretoria da empresa comunicou à associação a intenção de priorizar a contratação dos pilotos e comissários demitidos agora quando as vagas forem reabertas. Nenhum outro comentário foi feito pela ATT. “Quem pode falar é o comandante Nicolau, que está voando para Paris”, é a explicação da entidade.

Segundo a assessoria da TAM, o programa de renovação da frota, anunciado há cinco anos, quando a empresa recebeu o primeiro Airbus A330, está sendo mantido. Em 2002, a companhia recebeu 12 novos Airbus e acaba de confirmar com a diretoria da fabricante européia mais oito até o final do ano, além de outros quatro para abril de 2003, quando o total de Airbus somará 57 – 66% do total da frota. Um alívio para os passageiros que hoje enfrentam, a contragosto, fortes emoções a bordo do Fokker-100.