Trabalhar na terra do Tio Sam em época de dólar nas alturas é uma possibilidade que produz cifrões brilhantes no campo visual de qualquer um. Ainda mais com visto legalizado, trabalho garantido e promessa de ganhos de até US$ 1.600, ou até R$ 4.800. A oferta está sendo a grande arma das agências de intercâmbio na luta contra a fuga dos estudantes de idiomas, assustados com o sobe-e-desce do câmbio no Brasil. O mercado fechou o mês de agosto com pelo menos duas feiras de contratação nos EUA. Uma delas foi a IV Feira de Contratação Work Experience USA, realizada no Rio de Janeiro pela IE Intercâmbios, que trouxe dez empresas americanas para selecionar universitários para trabalhar durante as férias de inverno. A outra, a Job Fair, promovida em São Paulo e também no Rio pela Intercultural, contou com a presença de 11 empregadores. Eram hotéis, cassinos e estações de esqui dispostos a contratar o serviço temporário de quase mil brasileiros entre 18 e 30 anos para vagas de recreacionista, assistente de cozinha, instrutor de esqui, recepcionista, motorista, entre outras funções. As feiras servem para encurtar o processo de seleção. Os candidatos fazem a entrevista com os empregadores e podem sair com a contratação definida. De qualquer forma, as inscrições, na maioria, continuam abertas.

A média de brasileiros que saem do Brasil para estudar todo ano é de 33 mil. O atentado de 11 de setembro do ano passado conteve este impulso, que acabou mais estremecido com a alta do dólar. Os programas de trabalho vieram para dar um novo fôlego ao mercado. Caso contrário, os dados otimistas de crescimento de 30% no número de intercambistas nos próximos três anos, anunciados pela Brazilian Educational & Language Travel Association (Belta), que reúne as maiores empresas do setor, estariam comprometidos. “Essa foi uma forma de driblar a retração que começou no final do ano passado. No Brasil, não há queda de interesse. O que vemos é que, em todos os programas, as pessoas estão adiando o processo de decisão para o final do mês ou outubro”, explica Maria Inez Grasso, diretora da Belta. A viagem de trabalho remunerado ou a de estágio dão ao estudante a possibilidade de treinar o inglês, fazer cursos rápidos no Exterior e manter-se com seus próprios ganhos. Sem contar o convívio com profissionais da área de entretenimento e com a cultura local. Mas os americanos não são os únicos interessados nessa empolgada mão-de-obra. É o que conta o estudante de engenharia Fábio Ferrero, 24 anos, de São Paulo. Ele fez no ano passado um estágio de cinco meses na Alemanha. A experiência o ajudou a arrumar um emprego melhor. Agora, Fábio pretende realizar outro sonho, ter seu próprio apartamento. “Cresci muito profissionalmente, fiz um curso de alemão e aprendi a me virar sozinho. Tinha que cozinhar, passar e controlar meus gastos. Mas ainda dava para, nos finais de semana, viajar e conhecer outros países”, relata.

Muitas agências também aderiram ao novo filão. O Student Travel Bureau (STB), de São Paulo, por exemplo, fechou um contrato com a Disney para encaminhar estudantes de dez universidades brasileiras conveniadas para atender turistas em seus parques e ganhar de US$ 6 a US$ 9 por hora. Trata-se do programa Trabalhe, Viva e Aprenda, interessante principalmente para alunos de cursos como hotelaria, turismo, relações internacionais e marketing. “Isso não quer dizer que não podemos ter estudantes de outras áreas. A alimentação e a acomodação são pagas pelos alunos. Mas eles ficam dentro do complexo e podem aproveitar os cursos da Disney University”, ressalta a diretora de marketing Christina Bicalho. Para participar é preciso ter mais de 18 anos, não ser calouro nem formando. E quanto maior o domínio da língua, mais chances de ocupar melhores cargos. O quesito é ainda mais valorizado quando se fala em estágios no Exterior. Esses programas exigem certa experiência na área escolhida e bom desempenho no curso acadêmico cursado no Brasil.

É uma seleção acirrada, já que o investimento é relativamente pequeno. Em uma das ofertas do International Association for the Exchange of Studentes for Technical Experience (Iaeste), comercializadas pela Central de Intercâmbio (CI), gasta-se pouco mais de R$ 1,2 mil para se conseguir um estágio.

Quem está no limite de idade (18 anos) para fazer o high school, que corresponde ao ensino médio e é outra grande parcela deste mercado, também pode reavivar suas esperanças. Esses programas aparecem cheios de promoções, descontos, longos financiamentos e até bônus de milhagem. A empresa paulista Experimento oferece dois semestres de estudos nos EUA por pouco mais que o preço de um. Esta “boa vontade” de agentes e escolas ajudou Ricardo David Albano, 18 anos, a correr atrás do prejuízo. Até o final do ano passado, ele não pensava em viajar para estudar lá fora, mas o entusiasmo de um amigo que fez o intercâmbio o contagiou. “Como não sabia muito bem o inglês e minha notas em geometria e química não eram das melhores, tive que correr atrás e me aplicar. O dólar assustou, mas fomos pagando parcelado e deu certo. Embarco em janeiro”, diz ele, que com 1m80 de altura espera se destacar nos esportes. “Não tenho frescuras, me adapto facilmente e quero conseguir uma bolsa para cursar uma faculdade lá”, planeja. A Nova Zelândia e a Austrália têm se destacado como destinos muito apreciados pelos jovens, devido à segurança e ao nível de ensino, mas os Estados Unidos continuam a ser o país mais procurado. É que, nessa modalidade, Tio Sam é generoso. O intercambista não precisa arcar com o custo da escola pública nem com a acomodação na casa das famílias que voluntariamente participam do programa.