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NOVOS MUNDOS
"Tri X", escultura para ser vista através de olho mágico

Um tesouro iconográfico, guardado em uma linda casa construída em 1855, no centro mais antigo de São Paulo, começa a vir à tona. Restaurada e inaugurada há um ano para abrigar a memória documental da cidade, a Casa da Imagem guarda uma coleção de 710 mil fotografias que ilustram o desenvolvimento urbanístico da cidade ao longo dos últimos 150 anos. Para se ter uma ideia do valor histórico dessa coleção, iniciada em 1934 pelo então secretário Municipal da Cultura, Mário de Andrade, ela contém os raríssimos exemplares das primeiras cenas da paisagem urbana paulista realizadas pelo carioca Militão Augusto de Azevedo entre 1862 e 1887.

Esse acervo agora está acessível em exposições temporárias e atualizado em leituras realizadas por artistas contemporâneos. A mostra “Tombo”, de Rochelle Costi, que entra agora em sua última semana de exibição, foi o primeiro fruto desse projeto de diálogos temporais, concebido pelo diretor da Casa da Imagem, Henrique Siqueira.

O trabalho de Rochelle Costi lança um foco de luz sobre as imagens das transformações urbanas sofridas por São Paulo desde a virada do século XIX e sobre o zelo de conservação e estocagem que alguns fotógrafos tiveram sobre a imagem dessa cidade em constante desaparecimento.

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CIDADE
Fotografia de Becherini apropriada por Rochelle Costi

A artista salienta esses dois aspectos ao pinçar dos arquivos dois negativos em vidro de fotografias de Aurélio Becherini, de 1912, e oito fichas catalográficas realizadas pelo fotógrafo Benedito Junqueira Duarte – responsável pelas primeiras ações de preservação da coleção pública. “Meu projeto busca dar visibilidade às fotografias guardadas em reserva técnica. Por isso decidi refotografar as fotografias, mostrando o seu contexto, que é o arquivo”, explica Rochelle.

Além das fotos de fotografias, a intervenção de Rochelle Costi sobre o acervo inclui cinco esculturas produzidas com gaveteiros de arquivos, que devem ser vistas através de olhos mágicos. Dentro das gavetas, uma coleção de objetos obsoletos é usada para a construção de novos mundos: filmes, papéis fotográficos, câmeras analógicas, espirais usadas na revelação de filmes, e até um carrossel de projetor de slides são usados como peças de novas invenções, colocadas em movimento giratório, para encanto dos observadores. 

Com esses objetos animados, mais que observar a história, Rochelle reafirma o papel do artista contemporâneo de reprogramar a fotografia antiga e suas técnicas.