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POLÊMICO
Pitt como o matador Cogan: em defesa do porte de armas e do casamento gay

Um bom ator sabe o momento de mudar para melhor o tipo de papel que representa no cinema – e, principalmente, se ele está em condições de dar esse salto de qualidade. Prestes a completar 49 anos, no próximo dia 18, Brad Pitt se encontra nesse ponto da carreira: não pode ser considerado apenas um galã bem pago ou o polo masculino de um dos casais mais célebres de Hollywood – sua mulher é a estonteante Angelina Jolie. Ele já provou suficientemente que domina o seu ofício como poucos. Dessa forma, o mínimo que se pode dizer de sua atuação como protagonista do filme policial “O Homem da Máfia”, em cartaz no Brasil, é que sua escolha não poderia ter sido mais feliz. No papel de Jack Cogan, um matador profissional que atua para o crime organizado numa lúgubre Nova Orleans pós-Katrina, Pitt compõe um personagem gélido e pragmático, aquele tipo de assassino que não quer manchar a roupa bem cortada com sangue e cujas falas saem entre os dentes como as balas de uma pistola com silenciador. Eis uma pequena amostra de seu caráter, ao cobrar, dólar por dólar, o pagamento combinado por um servicinho sujo: “Os EUA não são um país, são puro business. Então me pague, desgraçado.”

Com esse papel, Pitt assume um surpreendente lado durão, reforçado pelas rugas de quem ainda não pretende se submeter a cirurgias plásticas. Dá sinais de uma guinada para aquilo que os americanos chamam de “tough guy”, uma tradição de atuação que remonta a Humphrey Bogart nos filmes noir. “Não sou mais aquele cara legal”, diz ele, que está finalizando mais dois filmes – “World War Z”, sobre uma “epidemia de zumbis”, e “The Counselor”, de Ridley Scott, em que interpreta um traficante de drogas. Pitt gostou tanto do roteiro de “O Homem da Máfia”, dirigido por Andrew Dominik, que decidiu ele mesmo coproduzi-lo por meio de sua empresa, a Plan B. “Quando Andy veio até mim com o projeto, vivíamos o ápice da crise financeira, das fraudes hipotecárias. Tempos terríveis, e o filme trata justamente desse momento”, disse o ator no lançamento na Inglaterra.

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A crise, contudo, é apenas sugerida – o que se vê são os seus efeitos no mundo do crime. Enquanto homens são eliminados como insetos, ouvem-se discursos e entrevistas de Barack Obama e George W. Bush na disputa presidencial de 2008, exibidos nas televisões das espeluncas em que acontece a história. Passado em apartamentos imundos e em ruas desertas, o filme se inicia com um roubo a uma casa de jogatina clandestina e mostra, na sequência, a lenta perseguição dos ladrões, comandada por Cogan, um executor com instinto de cão farejador. Sua máxima, que dá nome ao filme em inglês, é matar os bandidos com “suavidade” (“Killing them Softly”). O elenco inteiramente masculino conta com Ray Liotta (dono do cassino e primeiro suspeito do golpe) e James Gandolfini (outro matador, contratado por Cogan para ajudá-lo nas execuções). A violência é, assim, robusta. Tome-se, por exemplo, a sequência em que Cogan faz um ladrão amador chorar no balcão de um bar. Não precisa empunhar armas, usa apenas as palavras certas. Quando as mortes acontecem, contudo, são brutais.

Criticado nesse sentido, ao ser exibido em festivais após o massacre do Colorado, “O Homem da Máfia” foi defendido por Pitt: ele alegou que o porte de armas faz parte da cultura de seu país. Trata-se de uma opinião que vai de encontro aos seus ideais: além de apoiar Barack Obama à Presidência, afirmou muitas vezes que só se casará formalmente com Angelina Jolie quando o matrimônio gay for inteiramente legalizado nos EUA. Disse, ainda, a propósito do banho de sangue visto no filme: “Eu me sentiria mais incômodo interpretando um racista do que, digamos, dando um tiro no rosto de uma pessoa em um filme policial.” Uma declaração polêmica, mas afinada com sua atual fase bad boy.

Dotos: Melinda Sue Gordon; Divulgação