Nos últimos anos, a medicina obteve vitórias contra as doenças cardíacas. Remédios foram criados para proteger o coração do colesterol ruim, os procedimentos para salvar a vida de alguém que sofreu um infarto tornaram-se mais eficazes e as cirurgias estão mais refinadas. Mas um obstáculo importante desafia os médicos: o desenvolvimento de um coração artificial que funcione de forma satisfatória. Afinal, chegar a uma máquina capaz de substituir o órgão por vários anos, até que a doença que o atinge seja curada ou que o doente consiga outro, de verdade, por meio de um transplante, é o sonho de dez entre dez cirurgiões cardíacos e, é claro, dos pacientes.

Mas a ciência investe na busca de soluções. “As pesquisas estão aumentando”, afirma o cirurgião José Pedro da Silva, do hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. No mês passado, ele participou de um congresso nos Estados Unidos no qual os suportes mecânicos para o coração foram o principal tema. O coração artificial é um sistema composto por um aparelho implantado dentro do corpo do paciente alimentado por uma máquina que fornece os impulsos para que ele execute as funções do órgão. O suporte é a opção para quem precisa de transplantes ou vítimas de doenças que levam à insuficiência cardíaca, problema que deixa o músculo cardíaco incapaz de bombear o sangue adequadamente.

No entanto, ainda não se chegou ao coração artificial ideal. “Pesquisas feitas com pessoas que portavam o equipamento e outras que tomavam remédio mostram que em 12 meses a sobrevivência do primeiro grupo foi em média o dobro da do segundo. Mas em 30 meses o resultado igualou”, explica Adolfo Leirner, do Instituto do Coração (Incor), em São Paulo.
Porém, os esforços para melhorar o sistema começam a dar frutos. Nesse mês, comemora-se um ano de implantação bem-sucedida do primeiro coração artificial autônomo (que funciona sem a necessidade de maquinário externo), o AbioCor, em um paciente nos Estados Unidos. Na Argentina, a Fundação Favaloro, dirigida pelo cardiologista Roberto Favaloro, acaba de testar em um bezerro um modelo que também dispensa o aparelho externo e, espera-se, possa ser usado por até dois anos. “Se tudo der certo, testaremos o equipamento em humanos em um ano”, afirmou Favaloro a ISTOÉ. E no Incor, há pesquisas para a criação de um coração feito a partir das células do próprio paciente.