Trecho do capítulo “O Futuro”, do livro A globalização e seus malefícios, que está chegando ao Brasil, pela editora Futura, lançado em junho nos Estados Unidos e já considerado best-seller.

Hoje, a globalização está sendo questionada em todo o mundo. Há descontentamento com ela, e isso é correto. A globalização pode ser uma força para o bem: a globalização de idéias sobre a democracia e a sociedade civil mudou as formas pelas quais as pessoas pensam, enquanto movimentos políticos globais têm levado a alívio de endividamento e ao tratado sobre minas terrestres. A globalização tem ajudado centena de milhões de pessoas a atingir níveis mais elevados de vida, além daquilo que elas, ou a maioria dos economistas, poderiam imaginar há apenas pouco tempo. A globalização da economia tem beneficiado países que dela tiraram vantagem ao buscarem novos mercados para suas exportações e ao se abrirem para investimento estrangeiro. Mesmo assim, os países que mais têm se beneficiado são os que assumiram o controle de seus próprios destinos e reconheceram o papel a ser desempenhado pelo governo no desenvolvimento, em vez de permanecerem na dependência de uma idéia de mercado auto-regulador capaz de solucionar os próprios problemas.

Mas, para milhões de pessoas, a globalização não funcionou. Muitos estão em pior situação ao ver seus empregos destruídos e suas vidas se tornarem mais inseguras. Sentem-se cada vez mais impotentes contra forças além de seu controle. Viram suas democracias solapadas, suas culturas erodidas.

Se a globalização continuar a ser conduzida da maneira pela qual tem sido até aqui, se continuarmos a deixar de aprender com nossos erros, ela não só fracassará em promover o desenvolvimento como continuará a criar pobreza e instabilidade. Sem reformas, a reação que já se iniciou aumentará e o descontentamento com a globalização crescerá.
Isso será uma tragédia para todos nós, especialmente para os bilhões de pessoas que de outra forma poderiam se beneficiar. Enquanto aqueles no mundo em desenvolvimento se arriscam a perder mais economicamente, haverá ramificações políticas mais amplas que afetarão o mundo desenvolvido também.

(…) A situação atual me lembra o mundo há cerca de 70 anos. À medida que o mundo mergulhava na Grande Depressão, os defensores do livre mercado diziam: “Não nos preocupemos; mercados são auto-reguladores e, com o tempo, a prosperidade econômica retornará. Não importa a miséria daqueles cujas vidas são destruídas enquanto esperam essa assim chamada eventualidade. (…)
(…) Hoje, o sistema capitalista está em uma encruzilhada, da mesma maneira que esteve durante a Grande Depressão.
(…) As nações em desenvolvimento devem elas mesmas assumir a responsabilidade por seu próprio bem-estar. Podem gerir seus orçamentos para que vivam dentro de suas possibilidades, por mais parcas que possam ser, e eliminar barreiras protecionistas que, embora possam gerar grandes lucros para alguns poucos, forçam consumidores a pagar preços mais altos. Podem implementar regulamentação rigorosa tanto para se protegerem de especuladores de fora quanto do mau comportamento corporativo interno. Mais importante: os países em desenvolvimento precisam de governos eficazes, com judiciários fortes e independentes, responsabilização democrática, abertura e transparência, bem como fim da corrupção que vem sufocando a eficácia do setor público e o crescimento do setor privado.

O que devem pedir à comunidade internacional é apenas isto: a aceitação de sua necessidade, e direito de fazer suas próprias escolhas, de forma que reflitam seus próprios julgamentos políticos quanto a quem, por exemplo, deve arcar com os riscos. (…) O que é preciso são políticas para o crescimento sustentável, equitativo e democrático. É essa a razão do desenvolvimento, que não diz respeito a ajudar umas poucas pessoas a ficar ricas, nem de criar e proteger um punhado de indústrias sem sentido que beneficiam apenas a elite do país; não diz respeito a Prada, Benetton, Ralph Lauren ou Louis Vuitton para os ricos urbanos, nem a deixar os pobres rurais na miséria. Poder comprar bolsas Gucci em lojas de departamentos em Moscou não significou que o país havia se tornado uma economia de mercado. Desenvolvimento diz respeito a transformar sociedades, melhorar a vida dos pobres, permitir que todos tenham uma chance de sucesso e acesso à saúde e à educação.