A Polícia Federal está empenhada num processo de autofagia. Corta a própria carne expurgando quadros que têm comprometido a sua reputação. Isso aconteceu na quarta-feira 23, quando mais de 100 homens, entre delegados e agentes, foram mobilizados em cinco Estados e no Distrito Federal para desfechar em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, a “Operação Lince”. A ação da PF resultou na prisão de dois delegados da cúpula da PF paulista acusados de envolvimento com o roubo de cargas, receptação e adulteração de combustíveis. Eles jamais se preocuparam em investigar esses crimes em sua área de atuação. A “Operação Lince” foi deslanchada há dois anos em todo o País com objetivo de combater o roubo de cargas e a adulteração de combustíveis, modalidades criminosas que vêm alcançando índices alarmantes nos últimos anos.

José Bocamino, que comandava a PF em Ribeirão Preto, e seu auxiliar direto,
Wilson Alfredo Perpétuo, que também já chefiou a mesma delegacia, foram
presos às 6 horas da manhã de quarta-feira, em suas casas. A operação resultou também na prisão do agente federal Luiz Cláudio Santana, de dois ladrões de
carga, Roberto Lopes Álvares e Jair Dias de Morais, além do advogado Fauzi José Saab Júnior. Todos tiveram prisões temporárias decretadas. Eles vinham sendo investigados pelo Centro de Inteligência da Polícia Federal, e a participação na máfia do roubo de carga teria sido comprovada por escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, segundo revelou o coordenador de comunicação da PF em São Paulo, delegado Wagner Castilho.

Os delegados Bocamino e Perpétuo já haviam sido alvo de investigação no ano passado por supostamente integrarem um esquema de extração ilegal de diamantes na reserva indígena dos Cinta-Larga, em Rondônia. Na ocasião, foram presos um agente federal lotado em São Paulo e o doleiro Marcos Glikas, que já havia cumprido inclusive pena nos Estados Unidos sob acusação de lavagem de dinheiro. De acordo com denúncias na época, os dois delegados pretenderiam montar uma lapidação de diamantes na região de Ribeirão Preto a fim de contrabandeá-los para a Europa. Bocamino e Perpétuo negaram as acusações e chegaram a pedir que a PF investigasse rigorosamente os fatos. Foram afastados, mas reassumiram seus cargos. Os nomes dos dois delegados, por outro lado, estão relacionados na agenda de Law Kim Chong, apreendida durante a prisão do chinês que é apontado como o maior contrabandista do País.

Ao contrário do que ocorreu nas outras operações deslanchadas pela PF em
São Paulo – Anaconda e Shogun –, que tiveram repercussão nacional, o superin-
tendente da PF no Estado, delegado Francisco Baltazar da Silva, foi informado
pelo diretor-geral Paulo Lacerda e concordou, segundo assessores, com a “necessidade de se limpar o departamento”.