Nos anos 70, o high society andava down, como apimentou Rita Lee na antológica Alô alô marciano. Hoje a alta sociedade pode estar meio por baixo, abatida por crises econômicas, mas ficou menos hipócrita. É o que demonstra a nova edição de Sociedade brasileira, da socialite Helena Gondim, 73 anos. Bíblia dos chiques, tem sido relançada por 32 anos consecutivos.

Nesta edição, que traz 2,5 mil nomes, inova ao reunir casais gays num mesmo verbete, como senhor e senhora. O novelista Gilberto Braga aparece ao lado do companheiro, o decorador Edgar Moura Brasil. O mesmo ocorre com o estilista Carlos Tufvesson e o arquiteto André Piva. “É só uma questão de formalidade. Nossos amigos nos aceitam como casal há muito tempo”, aponta Braga. Apesar de frequentar os apartamentos de ambos, Helena relutou em tomar a decisão. “Só listei porque eles me pediram”, diz. “Foi legal porque esse livro tem fama de careta. Ao incluir casais gays, significa que algo mudou”, festeja Piva. Um outro casal homossexual, formado por ex-embaixadores, recusou-se a revelar sua opção. Cada um aparece num verbete, embora com o mesmo endereço, em Ipanema. “Eles só se assumem diante dos amigos”, diz Helena.

Devido ao constante entra-e-sai de celebridades, todo ano o livro causa polêmica. O critério de seleção é subjetivo e se modifica ao ritmo em que o dinheiro muda de mãos. Inicialmente batizado de Nossa sociedade – que devia dar uma sensação ainda mais forte de exclusão a quem ficava de fora –, mudou para Sociedade brasileira quando Helena Gondim assumiu as rédeas, em 1970. Incluía ricaços de São Paulo, Porto Alegre, Brasília, Belo Horizonte e Salvador, daí a escolha do nome. Hoje abrange essencialmente a sociedade carioca. “Antes, a seleção era muito esnobe, restrita às famílias tradicionais”, desdenha a autora. “Não é preciso ser tradicional para ser bem-nascido. Os selecionados são pessoas educadas, de convívio agradável”, acrescenta, sem definir seu critério de forma objetiva.
Sinal dos tempos, Sociedade brasileira é marcado pela falta de glamour. A sociedade atual não se compara às dos anos 50 e 60, com suas noitadas em elegantes boates, que terminavam com café da manhã em hotéis cinco estrelas. Famílias como os Paula Machado ou os Guinle não têm mais vida social e foram substituídas no glossário da elegância pelos novos-ricos. “Dos industriais antigos não sobrou ninguém. É a vez dos rapazes que vêm do mercado de capitais”, lamenta a autora. Ela confessa que, “no apagar das luzes”, incluiu o nome do empresário Alexandre Acioly, recém-alçado ao high society depois da badalada festa na Ilha Fiscal. Entre os remanescentes dos tempos de luxo, somente socialites notórios como os Gouveia Vieira, Carmen Mayrink Veiga, Josephina Jordan e Jorginho Guinle.

Para atualizar a obra, Helena Gondim sondou as atrizes Fernanda Montenegro e Malu Mader. Ambas declinaram, assim como Jô Soares. O humorista perguntou à autora por que não fez parte do livro no ano passado. “Se minha família é conhecida há mais de um século, e ela me convida só depois de 32 anos, por que eu iria aceitar? Por ela ter ido ao meu programa?”, fulmina Jô. Sem ressentimento por não terem sido citados antes, os escritores Paulo Coelho e João Ubaldo Ribeiro toparam ser incluídos. O autor baiano explica que já consta de outra bíblia, o Who’s who international, mas se envaidece em pertencer ao Sociedade brasileira. “Com meu nome, certamente Helena deu um toque mais moderno à sua obra”, ufana-se Ubaldo. Entre os paulistas, destacam-se a empresária de moda Costanza Pascolato e o publicitário Washington Olivetto.

Embora a conta bancária seja um item relevante do critério de escolha, Helena garante que seu livro não ameaça a segurança dos listados. Alguns antigos nomes foram excluídos por questões burocráticas, e não por medo de sequestro. Enquanto Roberto e Lili Marinho figuram com o endereço do Cosme Velho e e-mail, seu filho, João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo, não aparece na lista. “Como só mandava o endereço e o telefone do trabalho, preferi não botar nada”, diz Helena. A publicação de Sociedade brasileira não é fruto apenas do diletantismo da autora. O livro dá lucro. Com tiragem de três mil exemplares e 12 anúncios coloridos, é vendido a R$ 100. O lançamento será no próximo dia 30, no hotel Copacabana Palace. Os bem-nascidos, playboys e novos-ricos certamente estarão lá.