A diplomacia brasileira demonstrou bom senso e coerência nos dois últimos eventos em que foi acionada. No primeiro deles – a invasão do Iraque –, alinhou-se aos países que clamaram pela necessidade do sinal verde da ONU para as tropas invasoras. O fato de o país do Oriente Médio ser governado por um ditador como Saddam Hussein por si só não justificava a invasão. Por mais que seja deplorável e revoltante o fato de, entre outras barbaridades, ele ter passado quase 24 anos perseguindo, torturando e matando os curdos e xiitas do Iraque. O pretexto alegado, principalmente pelos Estados Unidos, ou seja, a existência de armas de destruição em massa, não foi suficientemente justificado antes da invasão. E, até agora, com o fim dos combates, as tais armas químicas e biológicas ainda não apareceram. Nem o corpo do famigerado Ali Químico – aquele primo de Saddam que jogou gás nos curdos em 1988 –, anunciado como morto em Basra, apareceu. A campanha do Iraque foi um sucesso em termos militares e, graças a isso, o regime de Saddam virou pó. Mas o custo para os civis iraquianos foi muito alto. Foram milhares de mortos e feridos – homens, mulheres e crianças, muitas crianças – e um absurdo caos instalado no país. Por tudo isso, pode-se dizer que o bom senso moveu a diplomacia brasileira ao condenar a invasão do Iraque sem o consentimento da ONU.

O mesmo se pode dizer em relação aos últimos eventos em Cuba. Apesar de membros do novo governo brasileiro manterem ligações de amizade com a ilha e com Fidel Castro, o que aconteceu em Havana nos últimos dias não foi nem um pouco bem visto em Brasília. Numa demonstração de estúpida afronta à liberdade de expressão, o líder cubano trocou o traje de presidente pela farda de ditador, colocando na prisão 75 cubanos, entre poetas, escritores e jornalistas, porque não concordam com o regime e não escondem essa discordância. Eles foram condenados a penas que chegam a até 28 anos de cadeia. Somou-se a isso o absurdo julgamento e fuzilamento sumário de três outros descontentes que cometeram a trapalhada de sequestrar uma balsa e tentar chegar com ela à Flórida. Na Comissão de Direitos Humanos da ONU, o Brasil, apesar de se abster, como vem fazendo há anos por conta do embargo americano que sofre a ilha desde 1961, fará uma inédita declaração de voto em que será manifestada a preocupação do governo com a questão do “julgamento sumário sem amplo direito de defesa dos réus e, sobretudo, com a aplicação da pena de morte”. Assim, pode-se afirmar que a diplomacia de Lula manteve o equilíbrio que marcou seu batismo de fogo com a crise da Venezuela logo no começo do governo.