O candidato tucano José Serra se apropriou do lema “Agora é Lula”, do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT). É seu novo grito de guerra. Desta vez, contra o petista. Serra vem criticando os afagos de Lula aos militares, cobrando compromissos públicos sobre o Movimento dos Sem Terra e tentando atrair Lula para o debate em torno da criação de empregos. A intenção do candidato do PSDB é transmitir a imagem de que a eleição estaria polarizada entre ele e o candidato do PT. Mas isso ainda está longe de acontecer: o petista lidera as pesquisas de opinião, divulgadas na terça-feira 10, com uma folga de 20 pontos percentuais com relação a Serra. Segundo o Ibope, Lula, com 39% das intenções de voto, precisaria apenas de mais cinco pontos para levar a fatura já no primeiro turno. Em segundo está Serra, com 19%, seguido de Ciro Gomes (PPS), com 15%, e de Anthony Garotinho (PSB), com 12%. Pelo Instituto Datafolha, Lula está com 40%, Serra tem 21%, Ciro, 15% e Garotinho, 14%.

Serra agora faz das tripas coração para chamar Lula para o ringue. A munição já está pronta: o tucano vai tentar convencer o eleitor de que é mais competente do que Lula. Também vai procurar colar no petista a imagem de que ele é apenas fruto do marketing. “Vamos acabar com essa história de ‘Lulinha paz e amor’. O Duda Mendonça é um especialista em tirar conteúdo de candidato. Será mesmo que Lula mudou?”, provocou o presidente do PSDB José Aníbal. A tática dos tucanos no ataque ao petista será diferente da utilizada contra Ciro. Na direção do candidato do PPS foram desferidos tiros na esfera pessoal, com a exploração de frases infelizes. Lula deverá ser atingido no campo político. Os tucanos vão compará-lo sempre a Serra. É uma forma de disfarçar os ataques, que não podem ser feitos de forma ostensiva para que não acabem sendo um tiro no pé. “Serra pode pagar um preço alto se começar a atacar sem cautela. A opinião pública não vai aceitar”, comentou um integrante da campanha de Lula. “Eu debato idéias e propostas. Jamais vou me voltar contra Lula. O que eu quero é discutir o programa de governo dele”, afirmou Serra.

O tucano, que promete criar oito milhões de postos de trabalho, desafiou o petista a mostrar como vai gerar dez milhões de empregos. Na quinta-feira 12, diante das provocações de Serra, Lula explicou que tem afirmado que o Brasil precisa criar dez milhões de postos de trabalho, mas não se comprometeu a gerar esse número de empregos. “Se eu for eleito, vou tentar recuperar em quatro anos os postos de trabalho que eles fecharam em oito anos”, reagiu. A ordem no QG de Lula é que o candidato não morda a isca de Serra. Isso não significa que os ataques ficarão sem resposta. Eles serão revidados por assessores de Lula, atentos a todos os movimentos do tucano. A estratégia petista é a cautela. Isso vale tanto para os eventuais contra-ataques a Serra quanto para a idéia de vitória no primeiro turno. Gatos escaldados em três eleições presidenciais, os petistas sabem que devem evitar o salto alto. “Não existe nenhuma possibilidade de ter clima de já ganhou. Vamos trabalhar até o dia 6 de outubro como se estivéssemos perdendo a eleição”, afirmou o presidente nacional do PT, José Dirceu. No QG de Lula, o crescimento de Serra ainda não é visto como irreversível. Marcus Flora, analista de pesquisas do comitê petista, explica que a ascensão de Serra na última aferição ocorreu dentro da margem de erro e se deu mais em função da queda de Ciro. “As pesquisas mostram que nem mesmo o eleitor que aprova o governo FHC confia plenamente em Serra. Lula e Garotinho atraíram votos de Ciro, dos indecisos e dos que avaliam bem e mal o governo”, disse.
 

Empate técnico – Diferentemente do Datafolha e do Ibope, que mostraram o tucano isolado em segundo lugar, o instituto Vox Populi divulgou na quinta-feira 12 pesquisa mostrando empate técnico entre Serra e Ciro. Lula tem 39%; Serra, 19%; Ciro, 17%; e Garotinho, 12%. A margem, de erro é 2,2 pontos. Diretor do Instituto, Marcos Coimbra destacou o fato de, no Sudeste, Garotinho (16%) ter ultrapassado Ciro (13%). O bom desempenho de Garotinho talvez explique o fato de o programa de rádio de Serra já ter desferido ataques também na sua direção. Marcos Coimbra ressaltou ainda a cristalização do voto de Lula. Um dado que confirma essa consolidação é a boa performance de Lula na aferição espontânea (em que não é mostrada ao pesquisado o cartão com o nome dos candidatos): 35% das intenções de voto, o patamar mais alto aferido pelo Instituto, apenas 4 pontos porcentuais abaixo de seu índice na pesquisa estimulada.

Em meio à maior crise de sua candidatura e diante dos boatos de que renunciaria, Ciro partiu para cima do tucano: “Esse boato não caiu do céu e interessa ao candidato do governo, que está desesperado, já gastou bilhões, contrata artistas, se esconde e mente feito um pinóquio.” Ciro chamou Serra de ditador e disse ainda que o candidato do governo é “um clone monstruoso de Fernando Henrique. Ele não tem limites, é o império do vale-tudo”. No horário eleitoral, a campanha da Frente também não cessa de criticar o governo FHC e a gestão do adversário no Ministério da Saúde, mostrando ex-mata-mosquitos dizendo frases como: “Serra, não voto em você porque não quero que você faça com o Brasil o que fez com a saúde do Rio de Janeiro.” A briga entre os dois não dá sinais de que acabará tão cedo, mas não tem rendido votos para Ciro. Por isso, o clima na Frente não anda nada agradável e a cúpula tenta acertar a mão na campanha. Ciro passou a criticar o petista também. Disse que Lula está se aproveitando do “fascismo” de Serra, referindo-se à onda de ataques do tucano contra ele. Apesar de continuar sendo alvo do candidato do PPS, Serra procura ignorar os ataques. “Ciro é um desesperado ladeira abaixo. A disputa agora é entre Lula e Serra”, desdenhou Aníbal. O marqueteiro de Serra, Nelson Biondi, vai além: “O maior aliado de Serra foi o Ciro, que caiu sozinho. A briga entre Lula e Serra será a da emoção contra a razão.”

Articulação – Apesar de evitarem falar em vitória no primeiro turno, os petistas trabalham nos bastidores para tentar vencer logo no dia 6 de outubro. Na segunda-feira 9, José Dirceu ligou para o presidente do PSB, Miguel Arraes. Sondou a possibilidade de Garotinho sair do páreo e apoiar Lula já no primeiro turno. “Vamos liquidar a fatura no primeiro turno”, disse Dirceu, segundo um alto dirigente do PSB. Em troca, o PT ofereceu ajuda aos candidatos do PSB em Alagoas, Pará e Rio Grande do Norte. Isso sem contar com o discreto apoio no Rio à mulher de Garotinho, Rosinha, e no Espírito Santo ao candidato Paulo Hartung. O ex-deputado petista Haroldo Sabóia (MA) procurou o vice de Garotinho, José Antônio Almeida (MA), para alinhavar a costura. “Você seria empecilho a um acerto com Lula no primeiro turno?”, indagou Sabóia. “Eu não seria problema, mas é difícil pensar num acordo nesse momento. Acabamos de subir nas pesquisas”, interrompeu o deputado Almeida, deixando a porta aberta para voltar a conversar daqui a 15 dias.

O apoio do PSB a Lula é uma questão de tempo. Os petardos que Garotinho vem disparando contra o petista são administrados no limite da crítica política e, quase sempre, vêm acompanhados de provocações aos demais candidatos. “Falta experiência a Lula, sobra continuísmo no Serra e Ciro Gomes não tem equilíbrio”, alfinetou Garotinho. “A crítica ao PT é para marcar diferenças. Se não formos para o segundo turno o natural é apoiar o PT”, explicou José Antônio Almeida. Nas conversas preliminares, o PSB já deixou nas entrelinhas que a negociação envolverá participação dos socialistas em um eventual governo petista, inclusive em ministérios.

Colaboraram: Francisco Alves Filho (RJ), Ines Garçoni e Juliana Vilas (SP)