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MANOBRAS
Bruno trocou sucessivas vezes de advogado e,
assim, conseguiu adiar seu julgamento

A confusão como método de defesa. A estratégia utilizada, com êxito, pelos advogados dos réus transformou, na semana passada, em chicana um dos júris mais esperados do País: o do desaparecimento e suposto assassinato de Eliza Samúdio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes de Souza, acusado de ser o mandante do crime. Nas sessões marcadas pelo caos no Tribunal de Contagem, na Grande Belo Horizonte (MG), houve até a paralisação por conta de um boato sobre uma tentativa de suicídio do jogador na prisão. As manobras dos defensores, como o abandono do plenário e várias trocas de advogados, adiaram o julgamento de três dos cinco acusados. Voltam a júri em março de 2013 o próprio Bruno, o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, apontado como executor do homicídio, e Dayanne Rodrigues, ex-mulher do jogador. O fato mais surpreendente da semana foi o depoimento do réu Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão. Ele relatou sua participação no sequestro de Eliza e implicou Bruno, o ex-amigo e ex-chefe, como autor intelectual da morte da jovem, cujo corpo permanece desaparecido há dois anos e cinco meses.

Abandono de júri é uma estratégia comum entre os advogados brasileiros, segundo especialistas ouvidos por ISTOÉ. “Entende-se que é benéfico para o acusado ser julgado sozinho ou com menor número possível de réus”, afirma o criminalista Henrique Baptista, especialista em direitos fundamentais pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Outra vantagem é que os advogados podem recolher informações preciosas em um julgamento de réu anterior ao do seu cliente. Foi nisso que apostou Bruno. No segundo dia de julgamento, o goleiro resolveu destituir seus dois defensores, Rui Pimenta e Francisco Simin, que, por sua vez, também representavam Dayanne Rodrigues, ex-mulher dele. Obteve a destituição do primeiro, mas não conseguiu o mesmo sucesso em relação ao segundo. Assim, Dayanne também teve seu julgamento adiado para março. No dia seguinte, novamente Bruno trocou Simin pelo advogado Luiz Adolfo, que alegou desconhecer o processo e pediu tempo para se preparar. Com isso, o goleiro também teve seu julgamento adiado. Apenas Macarrão e Fernanda Castro, ex-namorada do jogador, foram julgados. “Foi uma atitude clara no sentido de desmembrar o processo, já que a primeira não havia dado certo”, afirma a criminalista Roselle Soglio.

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DEPOIMENTO
Sentindo-se traído por Bruno, Macarrão disse que
o goleiro levou Eliza Samúdio para morrer

O depoimento de Macarrão foi a maior surpresa do julgamento: ele relatou como, a mando de Bruno, levou Eliza do Rio de Janeiro para o local indicado pelo goleiro em Belo Horizonte, onde teria entrado em um carro preto para nunca mais ser vista. “Ele ia levar ela para morrer”, declarou, isentando-se, no entanto de responsabilidade. Sentindo-se traído por Bruno, que numa carta divulgada para a imprensa pedia ao então amigo para assumir a culpa pelo crime, Macarrão afirmou que tentou demovê-lo, sem sucesso, da ideia de matar Eliza. “Bruno acabou com minha vida”, disse Macarrão.

Fotos: Fabiano Rocha/Extra/Agência O Globo e Thiago Chaves/Frame/Folhapress