Trezentos e sessenta milhões de esfihas, 12 milhões de quibes, 10 milhões de pratos árabes, 10 milhões de beirutes, 2,4 milhões de pizzas. O gigantismo dos números não deixa dúvidas: a rede de fast-food do Habib’s, especializada em comida árabe, é um fenômeno de vendas. Só no ano passado, cerca de 100 milhões de pessoas – entre elas um milhão de crianças e adolescentes – fizeram suas refeições nas 200 lojas do gênio árabe, símbolo da rede. O segredo para tanto sucesso? “Colocamos em prática coisas simples. Todos falam que fazem, mas apenas 1% aplica realmente. Nós estamos dentro desse 1%”, explica o ex-médico Alberto Saraiva, dono da empresa que nasceu há 15 anos em uma lojinha no Alto de Pinheiros, em São Paulo. Entenda-se por “coisas simples” o preço baixo (os produtos mais vendidos custam menos de R$ 1).

Bem-sucedido, o Habib’s está partindo para uma nova empreitada que, segundo Saraiva, irá elevar as vendas entre 30% e 40% este ano e manter a lucratividade em 20%. A novidade, que começa a ser implantada em São Paulo, se chama Contact Center. Trata-se de um sistema por telefone para atender 1,2 milhão de ligações por mês. A idéia é entregar lanches e refeições na casa dos clientes em até 28 minutos. Caso a encomenda não chegue dentro do tempo previsto, a conta será paga pela loja que não cumprir o prazo. Para que não haja problemas nessa guinada tecnológica da empresa, Saraiva se cercou de companhias líderes na área de informática e tecnologia – IBM, Avaya, Lucent, Telefônica, Rede’in –, criou uma nova companhia, a Voxline, para administrar o negócio, e investiu R$ 10 milhões na compra de computadores e no desenvolvimento de softwares. “Colocamos o que há de melhor em termos de tecnologia no mundo”, diz o empresário. Até
o final do ano, o sistema estará na internet e deverá gerar cerca
de 800 empregos.

O Delivery 28 Minutos terá, provavelmente, a atriz Luana Piovani como a estrela da campanha publicitária orçada em R$ 5 milhões. Outra tentativa para reforçar as vendas de quibes, esfihas e beirutes é a recente e insólita parceria com a George Lucas Filmes. Por US$ 40 mil, a empresa brasileira terá direito ao uso da marca e dos personagens do filme Star wars, o ataque dos clones nos kits infantis. Nesse caso, a meta é multiplicar por cinco as vendas dos kits nos próximos dois meses (de 200 mil para 1 milhão) por conta das promoções e brindes com os heróis do novo episódio da série.

A nova empresa, a oitava do grupo, também servirá como embrião para a entrada do Habib’s no rentável mercado de call center, a versão moderna do telemarketing, que movimentou cerca de R$ 74 bilhões no ano passado e é dominado por grandes companhias multinacionais. “Vamos ter no futuro de três mil a quatro mil pontos de atendimento”, afirma Saraiva. Com isso, ele pretende terceirizar o serviço de atendimento eletrônico de outros segmentos, como o de automóveis e eletroeletrônicos. “Vamos matar dois coelhos com uma paulada”, exagera, lembrando que o diferencial será, a exemplo das esfihas, cujo valor se mantém em R$ 0,39 há oito anos, a política agressiva de preços.

Para manter os preços mais baixos do mercado, há uma espécie de “dez mandamentos da lucratividade”, regras implantadas por Saraiva desde a abertura da primeira loja e que hoje fazem parte da rotina de funcionários e franqueados da marca. Entre esses mandamentos, está o controle rígido das despesas: não gastar mais que 19% do faturamento com salários e mais que 20,5% com compras. Outro ponto que ajuda a baratear os preços é a venda de bebidas: os balconistas têm que
vender, por dia, um refrigerante ou suco e meio por cliente. “Bebida
é o item mais lucrativo.”

A verticalização é também importante: todas as oito empresas do grupo têm como principais clientes as lojas Habib’s, como a Arabian Bread, que produz pão sírio e de hambúrguer, discos de pizza, massa para pastel, doces caseiros e árabes; e a Promilat, que fornece os queijos. “A estratégia de subsidiar o preço da esfiha para atrair os consumidores é fenomenal”, elogia Sérgio Kuczynski, um dos sócios do restaurante Arábia, especializado na cozinha libanesa, que atende cerca de dez mil pessoas por mês e não compete com o Habib’s, pois recebe uma outra faixa de público, preocupada com a qualidade e a autenticidade das receitas. “Eles (Habib’s) devem incomodar os restaurantes de fast-food, como o McDonald’s, que brigam por preço”, diz Kuczynski.

Os planos ambiciosos do Habib’s no Brasil só foram definidos depois de abandonada a idéia de internacionalização da empresa. Com tudo praticamente pronto para desembarcar em solo americano, a empresa teve que desistir em razão dos atentados de 11 de setembro em Nova York. “Hoje o mercado americano não é mais nossa prioridade”, admite Saraiva, que, agora, está com o pensamento voltado para as novas investidas em território brasileiro.