No universo não há fim nem começo. Luzes, gases e poeira se amalgamam em eterno movimento de rotação, colisão e explosão. Essa notável máquina do tempo, na qual a morte de uma estrela pode significar o nascimento de outra, só se tornou visível com o aperfeiçoamento tecnológico. Depois de sofrer uma cirurgia para modernizar seus instrumentos de observação, o telescópio espacial Hubble conseguiu invadir o interior das galáxias para revelar o invisível. Localizado a 400 quilômetros da Terra, ele está equipado com uma câmera infravermelha e um espectrômetro, instrumento para medir o comprimento das ondas de luz que serão transformadas em imagens depois de analisadas pelo computador. No primeiro teste de sua aparelhagem nova, em abril, o Hubble bateu belas fotos, mas na semana passada ele brindou a humanidade com uma coleção de imagens hipnóticas que dão pistas sobre a origem do universo.

O novo espetáculo pictórico exibe com maior nitidez a nebulosa Cone, nuvem de gás e poeira cósmica que surge no momento da explosão entre as estrelas, cuja luz demora 2.500 anos para chegar à Terra. Ao contrário do flagrante de dois meses atrás, a nova foto revela um brilho antes encoberto pela fumaça. Um outro quadro mostrou a colisão de quatro galáxias a um bilhão de anos-luz da Terra. É de trombadas cósmicas como essa que nascem, todos os anos, cerca de 200 astros similares ao Sol. Na terceira imagem, o Hubble perscrutou o coração da galáxia NGC4013, na constelação Ursa Maior, e deixou à vista uma faixa brilhante que evidencia um anel de estrelas recém-formadas. “Daqui para a frente, a humanidade terá uma nova visão do universo”, assegura o físico Marcomede Rangel, do Observatório Nacional do Rio.