Nos últimos dias, a violenta ação de criminosos em São Paulo chocou a população e fez subir o tom nas propostas sobre segurança pública dos candidatos ao governo do Estado. Nos partidos menores, as medidas para coibir a criminalidade são extremas. Eles justificam as propostas lembrando cenas como a perseguição a policiais e a execução, por ladrões de carro, do investigador Walmir José Lopes às 11h, em uma das avenidas mais movimentadas da zona leste da cidade. Na frente de várias pessoas, Walmir, de joelhos, implorou por sua vida. O fuzilamento sumário de três pessoas dentro de um ônibus em Campinas por não terem dinheiro para entregar aos assaltantes é outro exemplo para os pequenos partidos respaldar a decisão de “endurecer” as ações quando o assunto é o combate à criminalidade. Segundo candidatos desses partidos, atitudes mais radicais serviriam como exemplo aos jovens que vêem no crime um modo de vida como Ivan Rodrigues da Silva, o Monstro. O autor do sequestro e morte do prefeito Celso Daniel declarou à imprensa, ao ser preso pela segunda vez na quarta-feira 5, que não sabe fazer outra coisa na vida a não ser roubar e sequestrar: “Fiz do crime uma profissão”, confessou Ivan.

Ninguém ultrapassará as divisas do Estado sem dar maiores explicações à polícia. Este esquema de segurança radical poderá existir em São Paulo se Fernando Fantauzzi (PST) ganhar a eleição para o governo do Estado. Fantauzzi chama a ação de “Muralha virtual”. O candidato, que tem 1% das intenções de voto nas pesquisas, promete ainda criar uma espécie de “guarda de fronteira” nas estradas e aeroportos paulistas. Segundo ele, a fama de “frouxo” do governador e candidato à reeleição Geraldo Alckmin (PSDB) se espalhou pela América Latina: “Todos os marginais, por saberem que aqui tem muito dinheiro e terem a certeza da impunidade, estão vindo praticar crimes em São Paulo.” Fantauzzi defende a criação de uma divisão especial na Polícia Militar para cuidar da fiscalização dos que quiserem entrar no Estado. A passagem só seria liberada depois que a guarda se certificasse de que o cidadão não tem ficha criminal. Fantauzzi nega que o direito constitucional de ir-e-vir estaria comprometido. E justifica: “São Paulo vive em estado de guerra e, por isso, medidas como esta são cabíveis. Estamos na UTI. É preciso um tratamento de choque.” Adversários do mesmo porte, que também disputam o Palácio dos Bandeirantes, apostam em propostas polêmicas para chamar a atenção do eleitor.

Uma linha mais dura para a segurança pública já provoca reação nas facções criminosas. Na terça-feira 4, a PM encontrou uma bomba de dinamite de cerca de 500 gramas no banheiro do Hotel Maksoud Plaza, em São Paulo, onde Fantauzzi esteve para anunciar seu apoio ao candidato a presidente da República Anthony Garotinho (PSB) e também apresentar seu plano de governo. Um homem que se identificou como integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) telefonou para o hotel avisando do artefato. Teria dito que o explosivo foi colocado em represália a Fantauzzi. “Era uma bomba completa, com dinamite, cordel e espoleta, capaz de destruir tudo num raio de dois metros”, disse o sargento Paulo César Pereira, que desarmou o artefato na garagem. Entre as propostas do candidato do PST está também a construção de um presídio-ilha. Segundo ele, a penitenciária de segurança máxima será destinada a encarcerar o que chama de mestres do crime, tais como os membros do PCC e de outras facções, e poderá abrigar até três mil detentos. “De uma ilha não se pode cavar túneis. Quando você isola esses criminosos, fica mais fácil controlá-los e impedi-los de usar o celular”, diz o candidato. A localização do presídio, segundo ele, ainda está sendo estudada.

Enquanto uns são bombardeados por defenderem idéias polêmicas, outros se dizem invejados exatamente por isso. Levy Fidélix, candidato do PRTB, ainda não foi citado nas pesquisas estaduais, mas já investe pesado em seu Aerotrem. “Não é porque somos nanicos que não temos propostas”, assegura. Seu partido, fundado por ele há dez anos, terá candidatura própria em todos os Estados e possui como estrela o ex-presidente Fernando Collor, que deve disputar o Senado ou o governo de Alagoas.

Levy já concorreu à Prefeitura de São Paulo (1996) e ao governo paulista (1998) e insiste mais uma vez na empreitada, na tentativa de eleger pelo menos dez deputados federais. “Vou puxar votos apresentando propostas como o Aerotrem, a canalização dos rios Tietê e Pinheiros e a privatização dos presídios.” Ele garante que o Rodoanel foi invenção sua. Diz que a proposta de se construir um anel viário em torno da capital foi sugerida na campanha municipal de 1996 e copiada pelo governador tucano Mário Covas. “Quando eu falava, os poderosos diziam que era caríssimo, impossível. Esperaram acabar a eleição para fazer e rebatizaram de Rodoanel”, queixa-se, mostrando documentos do registro da idéia em cartório. “Não estou dizendo que o governo tem que pagar direitos para mim, mas que assuma que a criação é minha”, reclama. Ao contrário de Fantauzzi, Levy não acha que a segurança pública é um tema prioritário nestas eleições. No entanto, mostrou-se a favor da unificação das polícias Civil e Militar. “Mais importante é cuidar do social.” Nesta área, Levy garante que também foi copiado, desta vez pelo PT. “Criei o Banco de Poupança Popular Municipal (BPPM) e os petistas imitaram e deram o nome de Banco do Povo. Agora estão falando em trem-bala, que não passa de um derivativo do Aerotrem”, referindo-se à proposta sugerida pelo deputado José Genoíno (PT), seu adversário na corrida pelo governo paulista. O “presidente Levy”, como é chamado pelos correligionários, orgulha-se: “Sou nanico, mas com proposta.”

Para o ex-deputado federal José Maria Eymael (PSDC), o pouco tempo de tevê e a baixa popularidade não são empecilhos para divulgar idéias de partidos menores. Eymael, que será candidato à Câmara dos Deputados, ressaltou que graças à mensagem que o partido vem transmitindo durante anos, mesmo sem nenhum espaço na mídia, ele diz que tem “uma média nacional de 2% nas pesquisas”, diz. Eymael lamenta ter sido forçado a desistir de disputar as eleições presidenciais por causa da verticalização. Mas promete que seu partido contribuirá com propostas para a segurança pública. “Esta é uma questão prioritária. A população está vivendo em prisão domiciliar”, diz. Ele indicou ao partido o nome do delegado Paulo Fortunato, ex-presidente da Associação dos Delegados de Polícia de São Paulo, para concorrer ao Senado. Para Eymael, os governos Covas e Alckmin (PSDB) erraram na política de segurança, ao retirar a PM da vigilância das delegacias. “Tem delegacia por aí com 150 presos vigiados por um delegado e um escrivão”, reclama.

O PSDC tem inspiração humanista e acredita que é necessário investir na ressocialização dos criminosos. Já o PST de Fantauzzi quer priorizar a segurança do cidadão. Eymael e Fantauzzi concordam em duas coisas: são contra a desativação do complexo do Carandiru e pregam melhor remuneração para os policiais. “O presídio não precisa ser demolido. Poderia receber os que estão detidos nas delegacias”, sugere Eymael. Fanatuzzi é mais incisivo ao falar da desativação do Carandiru: “Sou totalmente contra. O Alckmin espalhou todos os bandidos do PCC pelo interior. Eles viraram professores do crime”, afirma.

A vedete das eleições em todos os níveis será a segurança pública. Todos os candidatos vão explorar o tema, independentemente do lugar em que se encontram nas pesquisas. Todos são a favor de altos investimentos na área, acoplados a uma política de empregos, a fim de incluir no mercado aqueles que, sem renda, vislumbram no crime a sobrevivência. A criação de novos postos de trabalho é apontada como uma das soluções para o problema da violência. O índice de desemprego no Estado é de 20,4% da população ativa, a maior desde 1985, segundo divulgou a Fundação Seade/Dieese.