Com sua convenção nacional marcada para o próximo sábado 15, quando será decidido se apóia ou não a candidatura do tucano José Serra a presidente da República, o PMDB da pré-candidata a vice Rita Camata se transformou em uma noiva indecisa. As contas dos chefões governistas e oposicionistas do PMDB simplesmente não batem. Parecem repetir o refrão da canção “tudo certo como dois e dois são cinco”. Por enquanto, nenhum dos lados tem maioria folgada. A cúpula do partido, integrada por caciques habituados às benesses federais, escalou o ex-ministro Eliseu Padilha (RS) para mapear os votos, contabilizando uma maioria de 60% pró-Serra. Contador da ala oposicionista, o ex-presidente do partido Paes de Andrade (CE) está consultando Estado por Estado e garante contar com 60% dos convencionais contra o casamento com o PSDB. Os governistas fizeram uma tensa reunião na terça-feira 4, alarmados com os efeitos da aproximação entre o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e os dissidentes do PMDB e com o convite dos petistas para que o senador peemedebista Pedro Simon (RS) assuma a vaga de vice numa aliança PT-PMDB.

A reunião acabou se transformando em um balcão de reclamações. Na checagem dos votos pró-governo, os capos peemedebistas detectaram novos focos de rebelião em redutos tradicionalmente ligados ao governo, entre eles Santa Catarina, Paraíba, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Sergipe, Pará e Amazonas. Estes Estados garantiram, por exemplo, a eleição de Michel Temer para a presidência do PMDB contra o senador Maguito Vilela (PMDB-GO), candidato dos dissidentes na última convenção. Durante a conversa, a primeira a protestar foi a pré-candidata a vice, Rita Camata (PMDB-ES). Tida como um corpo estranho na cúpula, Rita desceu dos saltos e reclamou que os caciques eram “machistas” e escondiam informações dela. “Eu tenho que saber o que está acontecendo para ajudar”, desabafou. Os chefões do PMDB fizeram cara de paisagem. Ignoraram o queixume e passaram a desancar os tucanos. Reclamaram da falta de recursos nos dois ministérios que ocupam (Transportes e Integração Nacional) e criticaram o corpo-mole dos coordenadores de José Serra na solução de conflitos estaduais entre os dois partidos. “Parceria que não resolve não é parceria”, reclamou o ex-deputado Moreira Franco, conhecido por sua subserviência aos interesses do Palácio do Planalto. “Do jeito que vai, não aprova a coligação e acaba dando a solução-camarão”, resumiu o prefeito de Joinvile, Luís Henrique (PMDB-SC), referindo-se à hipótese de o partido não formalizar nenhuma aliança para a Presidência. Henrique, o vice rejeitado por Serra, pode estar certo.

Dinheiro – Com esse diagnóstico e dispostos a cobrar a fatura do apoio antecipadamente, os líderes do PMDB improvisaram para o mesmo dia uma reunião com o presidente Fernando Henrique Cardoso, o candidato José Serra e o coordenador da campanha, Pimenta da Veiga (PSDB-MG). Além de reclamar mais uma vez do imobilismo tucano, os peemedebistas cobraram a liberação de verbas do orçamento e marcaram para este final de semana a resolução dos problemas locais. “Ou isso se resolve ou não tem jeito”, previa o presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS). Sobre dinheiro, FHC prometeu liberar recursos públicos após a aprovação no Senado da prorrogação da CPMF na quarta-feira 12. Estão no caixa do governo cerca de R$ 6 bilhões de emendas eleitoreiras de deputados, referentes ao orçamento de 2001, batizadas de “restos a pagar” e ainda R$ 17 bilhões de novos investimentos para 2002. Todos os candidatos governistas estão de olho gordo nessa montanha de dinheiro que poderá jorrar em suas campanhas. Pela lei, os convênios com os ministérios para obras paroquiais só podem ser liberados até 4 de julho. Após este prazo, o dinheiro público só chega às campanhas dos aliados por vias nebulosas que costumam dar muita dor de cabeça, como, por exemplo, a doação de empresas privadas através da assinatura de empenhos prévios para tocar obras públicas após a eleição. Na esfera política, a brigalhada entre PMDB e PSDB começou a sair da inércia no final da semana. O PSDB decidiu intervir no Acre e forçar os tucanos de lá a apoiar o PMDB na disputa pelo governo do Estado, o que representa uma dezena de votos a favor de Serra na convenção. Em Santa Catarina, os tucanos devem apoiar o candidato do PMDB, Luís Henrique, e abandonar de vez o namoro com o candidato do PPB, Esperidião Amin, que já ameaça apoiar Ciro Gomes (PPS) para presidente. Do lado do PMDB, os governistas conseguiram garantir os convencionais que o ex-ministro Ney Suassuna (PMDB) controla na Paraíba e os votos que o senador Carlos Bezerra (PMDB) detém no Mato Grosso, embora eles continuem possessos com os tucanos. A ginástica numérica para garantir a coligação entre os dois partidos está exigindo medidas impensáveis. A própria Rita Camata terá de se reconciliar com os peemedebistas históricos do Espírito Santo, que ela pretendia expulsar do partido. Tudo para garantir 13 votos na convenção. O garimpo de votos no varejo, um a um, demonstra que, apesar dos discursos, a maioria da convenção ainda terá de ser conquistada. Como último recurso, o PSDB admite retirar a candidatura ao Senado do presidente dos tucanos, José Aníbal, e oferecê-la ao ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP) para obter os 67 votos do PMDB paulista, que definiriam uma decisão pró-Serra. “Vale qualquer coisa para evitarmos a aventura com Lula”, admite o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).

Racha – De olho na implosão inevitável do PMDB, o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, aumentou o assédio sobre o grupo dissidente. O PT sabe que dificilmente prosperaria uma coligação, mas assim mesmo está de olho mesmo é no apoio informal do espólio esquerdista do partido após a convenção desta semana, principalmente do governador mineiro, Itamar Franco (PMDB). Lula e o presidente do PT, José Dirceu, fizeram uma maratona de conversas reservadas com o senador Pedro Simon e com o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP). Dos dois, ouviu uma avaliação realista, pela qual a tese da independência do PMDB teria mais chances de ser aprovada do que uma aliança formal com os petistas. “A liberação do partido une mais do que um acordo com o PT”, afirmou Sarney no encontro com Lula. Seja qual for o resultado da convenção, o racha já deixou claro que, quem ganhar leva apenas uma parte do PMDB. Se houver casamento, seja com o PSDB ou o PT, parte da família da noiva vai fazer cara feia.


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