O rabo de peixe do Cadillac Fleetwood modelo 1959, exposto na capa de Mambo sinuendo, disco reunindo o guitarrista americano Ry Cooder e seu colega cubano Manuel Galbán, não dá margem a dúvidas. Cooder encontrou em Galbán o elo perdido entre a música pop e a latina. Como produtor e mestre de cerimônias do projeto Buena Vista Social Club, ele se recolhia no fundo do palco, abrindo espaço para monstros sagrados da ilha caribenha, como Ibrahim Ferrer e Compay Segundo, mostrarem sua arte castiça. Não era a praia de um virtuose da slide guitar – cuja técnica é deslizar um caninho de metal sobre as cordas – e de um mestre do rhythm’n’blues. Neste CD, o guitarrista se reencontrou.

O embargo econômico por parte dos Estados Unidos congelou a

economia cubana e deixou as guitarras suspensas no tempo. Mas

para músicos como Cooder, o instrumento de Galbán deve ser o

eldorado acústico. É assim que os dois tocam standards do tipo

Drume negrita

e proto reggaes do gênero Caballo viejo. A atmosfera se

completa com a utilização de coros e percussão. Todo mundo sabe

que, infelizmente, o embargo persiste. Cooder, porém, que antes foi anistiado pelo governo Clinton por ter feito seu

Buena Vista

, agora teve de pagar algo em torno de US$ 100 mil por comerciar com o inimigo. Depois do prejuízo, nada de encontros musicais com cubanos. Azar de todos, inclusive dos americanos.