Como era de se esperar, resulta desanimadora a observação da coluna de prejuízos do balanço de 2002. Mais um ano violento. Já em janeiro, o sequestro e morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel. Logo viria a amarga perplexidade diante das demonstrações de sangrenta arrogância do Estado paralelo, que teve em Fernandinho Beira-Mar sua estrela maior. O brutal assassinato de Tim Lopes, jornalista da Rede Globo, indignou a Nação. As aberrações praticadas pelo conceituado pediatra e terapeuta Eugênio Chipkevitch, que assediava sexualmente os pacientes em seu consultório, e pela jovem Suzane von Richthofen, que planejou e confessou a morte dos pais, deixaram todos atordoados, principalmente a classe média. A situação econômica se deteriorou. O dólar entrou no ano novo a decentes R$ 2,30 e alcançou o pico assustador de R$ 3,95 em outubro, impulsionado por um insano terrorismo eleitoral, muito lucrativo para alguns poucos. Os juros passaram dos 19% aos recém-ajustados 25%. O panorama internacional também não foi nada favorável com a ameaça de  nova guerra no Golfo Pérsico e o impasse venezuelano.

Ao buscar alívio e passar para a coluna dos lucros desta contabilidade anual depara-se com a conquista do penta no Japão, com destaque para a performance de Ronaldinho Nazário. Lá ainda está a vitória do Santos no Campeonato Brasileiro, principalmente pela revelação que foi o garoto Robinho e sua fascinante alegria de jogar. O dólar resistiu ao terrorismo
e vem baixando aos poucos. Milú Villela, a presidente do Centro de Voluntariado de São Paulo, também ocupa a coluna dos ganhos do ano. Ela honrou o Brasil ao ser chamada para representar o País na Assembléia Geral da ONU, como prêmio por sua atuação na área social.

Mas vem da política a esperança de que é possível equilibrar essa contabilidade. A eleição de Lula e a inusitada transição-modelo protagonizada por ele e Fernando Henrique trazem muito otimismo. O exemplo mais eloquente disso aconteceu
na cerimônia de entrega do prêmio O Brasileiro do Ano da Editora Três, na segunda-feira 16, em São Paulo. Para a
emoção das mais de mil pessoas presentes, os dois discursaram, trocaram elogios e se deram as mãos. Fernando Henrique quase chegou às lágrimas ao se confessar já saudoso do poder. Lula elogiou José Serra, seu adversário nas eleições, que, de pé na platéia, foi longamente aplaudido. O mágico evento demonstrou que as farpas e picuinhas naturais podem e vêm sendo bem gerenciadas, pelo menos até agora. E que, para vencidos e vencedores, antes de tudo está o trabalho por um Brasil mais justo e mais competitivo. Isso pode estar bem próximo.