O Comitê de Política Monetária (Copom) tomou sua mais tranquila decisão desde a posse do presidente Lula, há um ano e meio. A manutenção da taxa básica da economia (Selic) em 16% ao ano pelo segundo mês consecutivo era esperada até pelos mais ferrenhos opositores da equipe econômica. A decisão foi unânime, ao contrário de maio, quando o comitê terminou o encontro ra-
chado (foram seis votos a três a favor do conservadorismo). O raro momento de paz na vida do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, explica-se pelo bom momento vivido pela economia e por um hábil jogo de sinais emitidos pelo governo.

Na ata do Copom de maio, Meirelles e os oito diretores do BC que formam o comitê escreveram que um aumento de até 11% na gasolina para o consumidor estava dentro das expectativas para 2004. Na segunda-feira 14, um dia antes do início da reunião que define os juros, a Petrobras finalmente assumiu que é grave a crise internacional do petróleo e promoveu um aumento de 10,8% no combustível. O porcentual de alta na bomba deve sempre ficar abaixo disso. Portanto, rigorosamente dentro do esperado pela equipe de Meirelles, que ainda tem a preocupação com alguns índices de inflação um pouco acima da expectativa para justificar a manutenção da Selic. A ata da reunião com as explicações sai na quinta-feira 24.

A sensação de vitória que tomou conta da equipe econômica também ajudou. Depois de 18 meses apanhando de todos os lados, o ministro Antônio Palocci está conseguindo mostrar resultados de sua política restritiva. O País está crescendo já há quatro trimestres, como o próprio Palocci não se cansa de apregoar. “Não vejo por que haver preocupação de que a manutenção da taxa Selic em 16% prejudique a retomada da economia”, disse o ministro.

Paixão – O fato de a economia ter voltado a girar, apesar dos juros altos, tornou frágil o discurso de quem se opõe à atual política monetária. Nem o vice-presidente, José Alencar, levantou sua tradicional bandeira antijuros desta vez. Aos olhos do mercado financeiro, Alencar só terá chance de comemorar algum alívio na taxa de juros a partir de agosto (são poucos os que esperam uma mexida para baixo no mês que vem), dados os indicadores atuais.

É importante observar que a (quase) unanimidade se deu em torno da expectativa da decisão, não sobre o resultado da reunião. As críticas vieram, como sempre. A Fiesp lamentou, as centrais sindicais reclamaram, o comércio pediu ousadia. Tudo como sempre, mas desta vez sem o mesmo tom apaixonado que havia impregnado cada movimento da política monetária.

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