Duas potências nucleares rangeram os dentes e estão deixando o mundo de cabelos arrepiados. Índia e Paquistão, que não se acertam desde a formação de seus Estados em 1947, quando deixaram de ser colônias do Império Britânico, estão no limiar de uma perigosa guerra. Principalmente se um dos dois lados resolver usar a meia dúzia de bombas atômicas que possuem. O primeiro forte latido veio do primeiro-ministro indiano, Atal Behari Vajpayee, que avisou que seu país está pronto para “uma batalha decisiva” contra os separatistas muçulmanos apoiados pelo vizinho Paquistão. Durante uma visita de três dias aos soldados indianos na disputada região da Caxemira – que pertence à Índia, mas tem população majoritariamente muçulmana –, Vajpayee fez um alerta para que eles estejam “prontos para o sacrifício”.

No caso de Vajpayee, não dá para dizer que cão que late não morde. O primeiro-ministro indiano resolveu fortalecer sua defesa marítima enviando cinco navios (um destróier, uma fragata e três corvetas equipadas com mísseis) para a região. A Índia, de maioria hindu, que ocupa três quartos da Caxemira, e o Paquistão, de maioria muçulmana, disputam esse território há 13 anos, num conflito que já matou mais de 35 mil pessoas. A Índia vê a Caxemira como sua, enquanto o Paquistão quer que seja realizado um plebiscito para decidir quem deve dirigir a região. O governo indiano acusa o Paquistão de fomentar o terrorismo, fornecendo armas e treinando grupos separatistas islâmicos na Caxemira.

A reação do Paquistão às declarações de Vajpayee foi imediata. “O Paquistão também irá responder com força total”, disse o porta-voz do governo paquistanês. Na sexta-feira 24, o governo paquistanês anunciou que irá prossegir com os testes nucleares numa demonstração de força. As tensões entre os dois países vêm crescendo há 15 dias, quando um ataque terrorista matou 34 indianos, a maioria mulheres e filhos de soldados na base militar de Jamu-Caxemira. O ápice ocorreu na terça-feira 21, depois do assassinato do líder separatista moderado Abdul Ghani Lone. Um milhão de soldados das duas nações foram mobilizados nas fronteiras. Os líderes paquistaneses prometem aumentar seu contingente, trazendo de volta os militares enviados ao Afeganistão.

O governo paquistanês pediu ao secretário-geral da ONU, Kofi Annan, que aja como mediador. A Índia, por sua vez, acusa os Estados Unidos de fazerem vistas grossas ao Paquistão. Desde os atentados de 11 de setembro, Islamabad tornou-se um aliado imprescindível a Washington no combate ao terrorismo. Dezenas de soldados americanos estão em território paquistanês à caça de Osama Bin Laden e outros integrantes do al-Qaeda. Nova Délhi não parece estar interessada em mergulhar de vez em sua quarta guerra com o Paquistão, mas exige do presidente paquistanês, o general Pervez Musharraf, provas concretas de que esteja combatendo os extremistas. Na última semana, durante cinco dias seguidos, houve troca de fogo de artilharia pesada dos dois lados. Nos bastidores, diplomatas dos EUA e da União Européia tentam impedir o desastre. O enviado europeu para a Índia, Chris Patten, afirmou na sexta-feira 24 que a situação está por um fio e que “a tensão na Caxemira está tão quente quanto o clima da região.”