A cena ainda está fresca na memória. Dois jatos se chocam contra as torres do World Trade Center, em Nova York, e explodem com o impacto. Minutos depois, os maiores símbolos do capitalismo americano desabam, abalados pelo impacto e, principalmente, pelo incêndio. O fogo, provocado pela queima do altamente inflamável querosene de aviação, não teria a mesma proporção se já estivesse em uso o aditivo criado pelo brasileiro Alfredo Rafael Campi, 76 anos. A invenção que o neto de italianos conhecido como Lello quer patentear conserva o poder de combustão do querosene, mas impede que ele produza chamas. O combustível feito a partir de óleos vegetais eliminaria o risco de incêndios e explosões na decolagem, quando aviões e helicópteros saem do solo com o tanque cheio, e durante os pousos de emergência. “As pessoas deixarão de viajar em bombas voadoras”, afirma Lello. O inventor destaca que seu aditivo também pode transformar em ato rotineiro o perigoso abastecimento em pleno ar. “O maior problema do reabastecimento em vôo, fundamental para operações militares, é o risco de explosão do combustível, que passa do avião-tanque para os jatos através de bombas elétricas”, diz o inventor, que na juventude foi piloto de caça da Força Aérea Brasileira (FAB). O querosene vegetal não inflamável foi experimentado em turbinas de jato da FAB em testes sigilosos na década de 80, quando um avião Bandeirante cumpriu o trajeto Fortaleza–Brasília. Há poucos meses, Lello repetiu os testes com o combustível aditivado num motor estacionado.

A invenção de Lello Campi custou oito meses de pesquisa num pequeno laboratório em um sítio na cidade-satélite Braslândia, em Brasília. O teste para mostrar que o querosene com 15% a 20% do aditivo que tem o complicado nome de AAI-CJ-5 (aditivo antiinflamável para combustível de jato nº 5) não pega fogo é simplória. Primeiro, Lello coloca fogo num recipiente com querosene de avião. Depois, com um maçarico portátil, ele encosta a chama em outro recipiente com o combustível aditivado. Enquanto as chamas e a fumaça sobem altas do querosene puro, nada acontece no óleo tratado. A única alteração são pequenas ondas na superfície do líquido, provocadas pela chama do maçarico. Trabalhando como um alquimista moderno, Lello testou várias combinações até encontrar a fórmula definitiva do querosene não inflamável.

Em seu currículo, ele tem uma lista de descobertas notáveis. No final da década de 70, criou um óleo diesel vegetal, em parceria com dois professores de química da Universidade Federal do Ceará. A matéria-prima principal era a soja, mas a receita incluía outras plantas oleaginosas. A patente pelo invento lhe foi negada em 1980 sob a alegação de que, na década de 40, houve pesquisas teóricas nos Estados Unidos e na China sobre o assunto. Lello, que não tem formação de químico, coordenou depois a invenção de um querosene de avião de origem totalmente vegetal e de um aditivo que permitia a mistura do álcool ao óleo diesel. Sua curiosidade o fez, nos cinco anos que durou a associação com os professores cearenses, virar um rato de laboratório. “Acompanhei cada coisa que era feita, cada pesquisa, cada experiência. Isso me permitiu aprender a química na prática”, gaba-se.

O inventor trabalha agora para reduzir o percentual de aditivo necessário para preparar a mistura do querosene não inflamável. “Pretendo chegar a 5%, o que vai baratear os custos”, afirma. Depois do pedido de patente, Lello vai colocar sua invenção à prova em laboratórios sofisticados, visando à produção industrial. Ele diz que o interesse mundial já existe. “Os americanos queriam levar amostras do AAI-CJ-5 para testar nos laboratórios da Nasa (agência espacial americana). Claro que não deixei. Com a alta tecnologia, eles iriam descobrir a fórmula e eu ficaria a ver navios”, conta.

Risco menor

Responsável pela queimadura de pelo menos 45 mil crianças ao ano em acidentes domésticos no Brasil, o álcool etílico em embalagem plástica está com seus dias contados. Até o final de agosto, sua venda será proibida por determinação do Ministério da Saúde e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autorizaram a comercialização do produto na forma de gel, em embalagens de 250 ml e 500 ml. O álcool em gel tem as mesmas propriedades antimicrobianas, serve para limpar, desinfetar e continua pegando fogo em churrasqueiras ou fogareiros. O frasco em gel, porém, impede a queima instantânea do combustível, o que ocorre quando o conteúdo da garrafa cai perto da chama, por exemplo. A venda do álcool na forma líquida só será permitida em farmácias e drogarias, mas o limite máximo é de frascos com 50 ml.

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