Os brasileiros são bons em muitas coisas. Mas, para configurar um curioso paradoxo, no quesito auto-estima somos medíocres. Um de nossos esportes nacionais, por exemplo, é a prazerosa execração ao piloto Rubens Barrichello. Não nos importa o fato de ele ser um dos dois pilotos da lendária equipe Ferrari – o que há de melhor em automobilismo esportivo. E também pouco se nos dá o fato de ele ser o segundo em uma equipe em que o número 1 se chama Michael Schumacher, o alemão que já garantiu seu lugar na história, ao lado do argentino Juan Manuel Fangio, do escocês Jim Clark e de Ayrton Senna, Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet, brasileiros também, vejam só.

Outro exemplo de desdém nacional é o técnico de futebol Carlos Alberto Parreira. Apesar de ter comandado a Seleção que, em 1994, foi aos Estados Unidos e lá conseguiu o tetracampeonato na final contra a Itália, foi acusado de retranqueiro, burocrático e medroso. Parreira desde então vem se valendo da mesma persistência que o fez vitorioso naquela Copa do Mundo para recuperar o devido respeito. Os dois campeonatos que conseguiu para o Corinthians – a Copa Brasil e o Torneio Rio-São Paulo – finalmente o recolocaram no merecido lugar.

Duas histórias contadas nesta edição pela editora especial Luiza Villaméa são, com certeza, um bom tônico para nossa combalida auto-estima. Em uma delas, Luiza narra como uma família que perdeu um filho que lutava contra a ditadura militar em 1969 reverteu a dor e usou o dinheiro
da indenização para construir um santuário ecológico numa antiga
área de caça.

A outra história é um relato de guerra. Mostra como o Brasil foi ao Japão para defender a criação de outro santuário ecológico. Comandada pelo ministro do Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, a delegação brasileira demonstrou bravura na briga pela demarcação de um território, a partir da costa brasileira, onde baleias possam sobreviver sem a ameaça de arpões. Como Barrichello, perdemos. Mas ganhamos prestígio internacional e demonstramos preciosos valores éticos. O outro lado, em compensação, também não ganhou. A caça não foi liberada e os santuários já existentes no mundo foram preservados, com suas águas tranquilas, para a manutenção da vida.

Apresentamos também o mar revolto em que se transformou o horizonte político pré-eleitoral brasileiro.