O petista Luiz Inácio Lula da Silva, já despido da sua imagem radical, vem repetindo em seus discursos que tem um coração de mãe. Nele cabem, por exemplo, os liberais do PL, com quem o PT vem flertando. O generoso coração de Lula está pronto para abrigar também os dissidentes do PMDB, inclusive o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, com quem Lula já travou escaramuças verbais no passado. Na eleição presidencial de 1994, Quércia ironizou Lula, afirmando que ele nunca havia dirigido um carrinho de pipoca. O petista não deixou barato: “Nunca dirigi um carrinho de pipoca, mas também não roubei pipoca.” Se o presidente Fernando Henrique Cardoso esqueceu o que escreveu, seus adversários esqueceram o que falaram. Quércia e Lula passaram uma borracha no passado e agora trocam juras de amor.

Na terça-feira 28, em visita à cidade de Rio Claro (SP), coincidentemente terra natal de Ulysses Guimarães, Lula defendeu Quércia, lembrando que as denúncias de corrupção contra ele nunca resultaram em uma condenação. A defesa de Lula fez parte de uma jogada ensaiada. Quércia vazou à imprensa uma articulação política que vinha sendo tricotada com o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), para tentar criar um clima favorável nas bases do PMDB à proposta que vai levar à convenção do partido, no próximo dia 15: a de apoiar oficialmente a candidatura petista. Por enquanto, trata-se de um sonho, no qual o senador Pedro Simon (RS) tem lugar de destaque. Desprezado pelos tucanos, que preferiram a deputada Rita Camata (ES) como vice de Serra, Simon vai ser convidado por Lula para ser seu vice. “Vamos dividir o exército dos adversários tentando ganhar essa batalha”, afirmou Lula. A segunda hipótese trabalhada por petistas e dissidentes do PMDB, considerada mais factível, é obter a neutralidade do PMDB na eleição presidencial, liberando suas bases regionais para costurar alianças para as disputas aos governos estaduais. No jogo de cena para tentar seduzir os convencionais do PMDB, o PT já está acenando com a possibilidade de fazer alianças em vários Estados (PR, MG, PB, SE, SP e GO).

Em São Paulo, por exemplo, Quércia não lançaria sua candidatura ao governo e o pré-candidato do PT, deputado José Genoíno, teria como vice o escritor Fernando Moraes, filiado ao PMDB. Como serão eleitos apenas dois senadores por São Paulo, PT e PMDB lançariam apenas duas candidaturas competitivas, a do próprio Quércia e a do deputado Aloízio Mercadante. Na corrida pelo Senado estão também Romeu Tuma (PFL) e José Aníbal (PSDB). Mas há uma terceira hipótese, considerada a mais provável até agora: a de que os governistas do PMDB consigam aprovar o apoio à candidatura do tucano José Serra. Mesmo assim, petistas e peemedebistas rebeldes prometem manter o caso de amor, com alianças informais nos Estados e na eleição presidencial.