Luz no fim do túnel para os pais preocupados com a solidão dos adolescentes que se trancam no quarto e se desconectam do mundo diante do computador. E também para os jovens loucos por games de última geração (como Day of defeat, Quake 3 e Counter strike) e inconformados com a lentidão de suas máquinas domésticas. A redenção são as lan houses, casas de jogos em rede que existem há quatro anos nos Estados Unidos e começam a invadir as grandes cidades brasileiras. As lans (local area network) quebram o paradigma de que o fã de games é um ser anti-social e reúnem grupos de jovens em batalhas virtuais num ambiente de sociabilização e amizade.

As lan houses oferecem computadores de última geração e cobram em média R$ 3 por hora. O frequentador é cadastrado pelo nick (apelido) e pode guardar créditos caso não esgote o tempo pelo qual pagou. O jogo preferido é o Counter strike porque é o que melhor simula a realidade. Por não ter um número máximo de participantes, é ideal para ser jogado em rede, com duas equipes se enfrentando: a dos policiais e a dos ladrões. A loja toda participa do mesmo jogo.

Outra vantagem das lan houses é a preocupação com o conforto do cliente. A maior parte das lojas especializadas em games só pensa na quantidade de máquinas. Daniel Vitor de Almeida, 25 anos, não concorda com isso. Ele abriu a loja Target, no Shopping Downtown, no Rio de Janeiro, há três meses e aposta na decoração do ambiente. Além da qualidade do equipamento, a loja tem charme e conta com DVD, lanchonete e ar-condicionado central. Durante o dia, crianças e adolescentes dominam o local. Quando a noite chega, a frequência muda: é a vez de os adultos virarem crianças. “Aqui se formam grandes amizades e é preciso uma boa atmosfera para que isso aconteça”, diz o jovem empresário.

Pedro Henrique da Fonseca, o Pedrão, 18 anos, e Douglas Wang, o Dec, 13, fazem parte do clã (equipe de treino) Target fire. Os dois praticam quatro horas por dia de graça e participam de competições. Pedrão acha que o Brasil ainda tem muito o que aprender sobre lan games. “Eu já disputei mundiais da CPL (Cyberathlete Professional League), mas nós não temos muita chance. Nos Estados Unidos, ganham-se rios de dinheiro para jogar”, queixa-se. Dec, da equipe mirim, é louco pelo Counter strike. “Minha mãe falou que vai mandar minha cama para a loja”, brinca Dec.

Na Challenger, outra loja carioca que arrasta cyberatletas, os hábitos se repetem. Cada jogador tem um apelido e, quanto melhor ele for, mais status adquire. É comum ouvir conversas incompreensíveis do tipo: “Hoje, o FPS tá rápido. Pára de campear newbie porque eu vou te mandar um headshot. A minha lan tá dando leg direto e a sensitivity tá caída, acho que vou resetar.” Traduzindo: “Hoje, a recepção está rápida. Pare de se esconder, novato, porque eu vou te dar um tiro na cabeça. Minha rede está caindo e o mouse tem problemas, acho que vou reiniciar o micro.”

A loja, inaugurada há seis meses, é uma das mais antigas do Rio e não pára de crescer. O gerente Pablo Pereira, o Escobar, 22 anos, diz que a equipe Challenger é o cartão de visitas. “Nós investimos muito no time. Os meninos treinam oito horas por dia e com certeza vão carimbar o passaporte para o mundial em Dallas”, torce Pablo. O campeonato será em julho e deve contar com dois representantes de cada país. Rafael Velloso, 16 anos, garantiu presença na última etapa pré-classificatória para Dallas. “Há três meses tenho treinado muito. Além de melhorar meu desempenho, é bom para desestressar”, diz Rafael.

Uma curiosidade das lans é a ausência quase total de mulheres. Natália Wollf, 15 anos, é uma das únicas jogadoras entre os mais de três mil clientes da Challenger. “Eu passo sempre algumas horas depois da aula jogando. Não sei por que outras meninas não gostam. Eu me divirto e ainda encontro com amigos e meu namorado”,
conta Natália.

Em São Paulo, as 11 lan houses existentes se tornaram ponto de encontro de várias tribos. “Aqui frequentam desde surfistas, skatistas até executivos, seja para participar de jogos em grupos, seja para relaxar”, conta Leonardo De Biase, gerente de Comunicação da rede Monkey em São Paulo. Lá o movimento começa às dez da manhã e vai até as duas da madrugada. “Nos finais de semana, tem até fila de espera”, diz Leonardo.

Para alguns frequentadores fazer uma parada na lan house é quase uma obrigação depois de um dia de trabalho. É o caso do administrador de empresas Guilherme Haddad, 27 anos. Ele trabalha em São Bernardo do Campo e pelo menos três vezes por semana faz um pit stop na Monkey do Itaim, zona sul da capital. “Não participo de campeonato, jogo apenas para me divertir. Depois de um dia estressante, serve como uma boa terapia”, afirma Haddad. Já o professor Sérgio Luis Altenfelder, 29 anos, levou mais a sério a brincadeira. Ele criou um clã e gosta de jogar em grupo. “Somos um time de futebol. Treinamos e criamos algumas táticas para enfrentar outros grupos”, explica Sérgio. E é no momento em que os jogos começam que o clima de tranquilidade acaba. “Não existe a rivalidade do futebol, mas cada vitória é comemorada como se fosse
um gol”, diz Altenfelder. A diferença é que ao final do jogo a
amizade prevalece.