Se é verdade que a vida começa aos 40, os tempos de glória da ciência brasileira mal se esboçaram. Na quinta-feira 23, dia que marcou as quatro décadas de criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), um grupo de 100 cientistas de 13 laboratórios paulistas celebrava a publicação de seu estudo na mais prestigiada revista científica internacional, a inglesa Nature. Após dois anos e meio de pesquisa e um investimento de US$ 5 milhões, sendo 95% pagos pela Fapesp, o consórcio comparou a sequência de genes de duas bactérias devastadoras da agricultura: a Xanthomonas citri, que causa o cancro cítrico, uma espécie de câncer que resultou na derrubada de 320 mil pés de laranja no ano passado, e a Xanthomonas campestris, que devasta plantações de arroz, soja, brócolis, couve e repolho.

“Ninguém sabe como uma bactéria causa doenças numa planta. Estudar o genoma é o primeiro passo para se encontrar a solução do problema”, diz o paulistano João Carlos Setubal, um dos líderes do estudo. O trabalho sucede a divulgação do sequenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa, a causadora do amarelinho e de um prejuízo de R$ 150 milhões ao ano à citricultura nacional. Em julho de 2000, seu mapeamento genético mereceu o destaque de capa da publicação científica, num feito inédito em 130 anos. A verba de US$ 12 milhões aplicada desde 1997 para desvendar o genoma da bactéria rendeu outros dividendos à fundação mantida pelo repasse de 1% da receita tributária do maior Estado do País. Colocou o Brasil entre as potências mundiais da biotecnologia, lista encabeçada pelos Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha e Japão.

Em seus 40 anos de atividade, a Fapesp concedeu quase 50 mil bolsas de estudo e patrocinou 60 mil projetos, mas o modelo inaugurado pela biotecnologia alterou o modo de fazer ciência no Brasil e contagiou outras iniciativas. Os pesquisadores não se encontram em reuniões ao vivo, mas estão sempre em contato pela internet. A ponto de o estudo de novas tecnologias para criar o futuro da rede ser uma das prioridades da Fapesp. “As apostas da ciência nacional são a biotecnologia, a tecnologia aeroespacial em parceria com a Embraer, a criação de um banco de dados com o inventário da fauna e da flora nacionais e as redes de comunicação de alta velocidade”, diz Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da fundação e reitor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O mais importante, segundo ele, é que a geração de conhecimentos se reverta em riqueza para a sociedade. “Queremos conectar a capacidade acadêmica, envolvendo empresas e o setor público como os grandes beneficiados”, diz ele. Deixando de lado a antiga crença de que iniciativa a privada, o Estado e a universidade são como óleo e água, que
nunca se misturam.