A Assembléia Legislativa de Brasília, chamada Câmara Distrital, e a Câmara dos Deputados federais começaram a investigar na semana passada denúncia feita pelo sindicalista Firmino Pereira do Nascimento Neto, filiado ao PPS, de que deputados do PCdoB e PT, inclusive o ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque, receberam dinheiro desviado pela associação dos 120 mil servidores da Fundação Educacional do DF para as campanhas eleitorais em 1998. A história começou quando a nova diretoria da fundação descobriu um rombo nas contas deixado pela administração anterior. Em conversa gravada em vídeo com o ex-diretor do sindicato dos professores da capital federal, o petista Marcos Pato, que investigou informalmente o rombo, Firmino confessou que, como diretor financeiro da entidade, provocou um desfalque na contabilidade que pode chegar a R$ 20 milhões. Somente com a Previdência, o desvio chega a R$ 1 milhão. “Cristovam levou uns 200 paus”, denunciou Firmino, que está sendo investigado pela polícia de Brasília por irregularidades denunciadas pela atual diretoria da
entidade sindical.

As acusações de Firmino não têm provas, mas são recheadas de detalhes que provocaram a criação de uma CPI na Câmara Distrital. Ele lembrou que pelo menos um show da banda Cheiro de Amor durante a campanha do ex-governador petista foi pago com dinheiro desviado da associação. Pior. Houve superfaturamento da despesa. A banda baiana recebeu R$ 80 mil, mas na contabilidade da campanha de Buarque foi registrado pagamento de R$ 120 mil. Além disso, na campanha que elegeu o atual governador Joaquim Roriz, Cristovam teve despesas gráficas pagas pela associação.

Na gravação, Firmino também acusa o deputado federal Agnelo Queiroz (PCdoB-DF) de ter recebido R$ 25 mil em cheques e dinheiro para a campanha. Esta acusação levou a corregedoria da Câmara do Deputados a começar uma investigação para saber se o parlamentar recebeu dinheiro ilegal para sua eleição. “Agnelo saiu, da primeira vez, com uma cota de cheques pré-datados de R$ 15 mil para a gráfica. Depois, saiu um valor próximo de R$ 10 mil. No total, foi R$ 70 mil”, acusa Firmino. O sindicalista também embolsou dinheiro da associação para custear a própria campanha derrotada a deputado distrital pelo PPS.

Reparação – Cristovam nega que tenha recebido dinheiro ilegal para a sua campanha. E desafiou: “Se provarem alguma irregularidade na minha campanha, desisto da minha candidatura e abandono a vida pública”, disse Cristovam, que acusa Firmino de louco. “Se ele tirou dinheiro da associação, tem que ser preso. Não admito estas acusações. Quero reparação.” Agnelo Queiroz também nega as acusações. “Nunca recebi contribuição financeira da associação. Coloco à disposição da sociedade e da Justiça meus sigilos bancário, fiscal e telefônico de toda a minha vida pública”, rebate.

Na fita gravada pelo sindicalista petista Marcos Pato, ex-dirigente da associação, Firmino também acusa deputados distritais do PT de terem se beneficiado do desvio nas finanças da associação. A ex-presidente da Câmara de Brasília Lúcia Carvalho (PT) teria recebido R$ 25 mil, R$ 15 mil em dinheiro e o restante em tíquetes-alimentação. “Mas pegou mais com o Sérgio (Rubens Ribeiro, ex-presidente da associação). Eu acho que ela deve ter levado uns R$ 20 mil”, entrega Firmino. Wasny de Roure, outro deputado distrital do PT, também foi acusado de ter recebido dinheiro e tíquetes-alimentação para a campanha. Tanto Lúcia quanto Wasny negam que tenham recebido dinheiro da associação e interpelaram Firmino na Justiça para que o ex-sindicalista apresente provas. Os dois votaram a favor da criação da CPI para apurar a denúncia. O ex-deputado Chico Vigilante (PT-DF), que tentou mas não conseguiu se reeleger em 1998, também é acusado de receber ilegalmente dinheiro da associação.

Sem registro – A fraude na Associação dos Servidores da Fundação Educacional (Asefe) foi descoberta pela atual diretoria, também formada por petistas, que depois da posse denunciou o crime à polícia e ao Ministério Público. Segundo os atuais diretores e o próprio depoimento de Firmino e outros dirigentes da associação, a entidade pagava despesas com gráficas de Brasília por serviços prestados aos candidatos. Estes pagamentos, de acordo com o denunciante, eram sempre superfaturados e as gráficas e outros prestadores de serviços devolviam o dinheiro pago em excesso para os coordenadores das campanhas. Em muitos casos, saía dinheiro do caixa da associação direto para os caixas das campanhas eleitorais. Isso tudo sem registro contábil.

Além de ilegalidades contábeis, a associação, segundo Firmino, servia como cabide de emprego para assessores de deputados distritais. Esses funcionários fantasmas recebiam salários, não apareciam para trabalhar e serviam em gabinetes petistas da Câmara Distrital. Outra fonte de renda era a fraude na demissão injustificada de trabalhadores. A associação demitia funcionários e pagava 40% de multa sobre o valor do FGTS, mas os dispensados eram obrigados a devolver o valor da multa que era desviada para os candidatos petistas. Além disso, parte da receita dos restaurantes administrados pela associação era desviado para as campanhas eleitorais. O candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva duvidou da veracidade das acusações e disse que o Ministério Público vai apurar se houve ou não corrupção.