No imaginário europeu, um dos mais freqüentes símbolos do paraíso tropical chamado Brasil é a união de sol, mar e um copo de caipirinha. O popular coquetel é a junção do máximo de álcool (destilado de cana a 42ºGL), com doce intenso (duas colheres de açúcar), acidez extrema (casca e sumo do limão prensados) e frio de pelo menos 0ºC (gelo) para ser bebido no auge do calor (como aperitivo de um almoço de verão). Mistura improvável de álcool, açúcar, amargor, acidez, frio e calor excessivos, a caipirinha encontra no antagonismo desses extremos o equilíbrio que lhe confere fama mundial.

Pois bem, essa harmonia obtida em um tom elevadíssimo é talvez o melhor retrato contemporâneo do País. Porque, para onde se olhe, da questão do campo à macroeconomia, passando pela campanha eleitoral, o Congresso ou a política externa, o Brasil caminha submetido a um choque de extremos. No caso da disputa presidencial, ainda que fatos e números nunca tenham autorizado tal mensagem, o que vigorou foi o discurso de Sul contra Norte, ricos versus pobres, centro e periferia.

Na macroeconomia, estão aí a maior taxa real de juros (que amarga o aumento de renda do trabalhador ao inibir grandes obras e a criação maciça de empregos) e seu filho dileto, o dólar desvalorizado (que confere uma doce percepção de riqueza ao baratear viagens ao Exterior e o preço de alimentos e eletrodomésticos).

O problema da caipirinha é que basta sobrar ou capengar um dos ingredientes que a sensação de desconforto é imediata. Na realidade nacional, isso é visto com mais freqüência no campo – ora com o assassinato de um líder dos sem-terra (laico ou religioso), ora com a invasão de uma fazenda-laboratório. Não existe crescimento sustentável nem coalizão política duradoura sob essa tensão de extremos. Ao contrário da caipirinha, o Brasil precisa se reequilibrar num tom mais sereno. Assim poderá criar um novo imaginário – o de um país a ser apreciado com moderação.

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