Salto alto, leveza, fina estampa e atuação combativa. Com essas armas, Rita Camata (PMDB-ES), a escolhida para ser a vice do candidato tucano José Serra, tem a missão de barrar a curva ascendente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, principalmente, atrair o eleitorado feminino – grande dificuldade do petista – para a candidatura governista. Aos 41 anos, Rita ostenta os traços que a elegeram musa da Constituinte. Quanto às críticas de que foi cortejada pelo PT e de que passou a maior parte de seu mandato fazendo oposição ao governo, a deputada rebateu: “Aliança não é necessariamente a junção de iguais. Neste caso, ela é a união de pessoas das mais diversas convicções em torno de pontos comuns.” Mas o auge do encantamento por Rita, que teve o aval decisivo de FHC, foi o fim de seu discurso. “Nesta luta (pela vitória), de salto alto e com maquiagem, só eu”, afirmou a deputada, que está no quarto mandato e transformou em lei 16 projetos de sua autoria, entre eles a Lei Camata, que deu origem à Lei de Responsabilidade Fiscal, e a licença maternidade.

A escolha de Serra também atendeu aos desejos do marqueteiro Nizan Guanaes, que já batizou a chapa de “A bela e a fera”. Mas a interferência de FHC e de Nizan na escolha de Rita já começa a repercutir no PMDB. Preterido, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) reagiu: “Nizan não entende de conteúdo e, sim, de forma. Tomara que dê certo desta vez, já que a outra (Roseana Sarney) ele abandonou.” Simon, que não atendeu aos apelos de Michel Temer para que participasse do anúncio oficial e apoiasse Rita, está na mira do PT e de Lula. O PMDB, no entanto, não está fechado com a deputada.

Nas sucessivas reuniões entre PSDB e PMDB, vários nomes de confiança dos líderes do PMDB foram ressuscitados. Temer chegou a insistir no líder Renan Calheiros (AL) e no presidente do Senado, Ramez Tebet (MS). Ambos recusaram e o partido cedeu às pressões de Serra e retirou os vetos aos nomes defendidos pelo governo: Rita Camata e Pedro Simon. A direção do PMDB, que não gosta de nenhum dos dois, entregou a decisão a Serra. Fundamentais para a escolha da capixaba foram as pesquisas indicando os benefícios de uma mulher na chapa e o veto a Simon feito por FHC a Serra: “Se você escolher o Simon, terá problemas terríveis na campanha e problemas piores para governar.” A escolha de Rita também resvalou nos mais toscos folhetins policiais. As cúpulas dos partidos escalaram deputados para sondar a existência de dossiês contra a família Camata. O próprio marido, o senador Gerson Camata (PMDB-ES), foi submetido a uma constrangedora sabatina. Garantiu que o casal não tem pecados. A rejeição ao nome do senador Simon pode dificultar a coligação. A ala que classifica a aliança com Serra como um “suicídio” lançou um manifesto contra a coligação. “Com o Simon havia chance, mas com a Rita eles perdem”, aposta o ex-presidente José Sarney (AP). Apesar da pompa para o lançamento de Rita, os senadores Nabor Junior (AC), Cassildo Maldaner (SC) e Amir Lando (RO) desaprovaram a escolha. “Foi a pior decisão possível”, desabafou o líder Renan Calheiros. O coro dos descontentes ainda pode ser engrossado pelo PMDB do Rio Grande do Norte, que não gostou da imolação de Henrique Alves, e pela Paraíba, do senador Ney Suassuna.

Cassação – Defenestrado da vice de Serra por causa das revelações feitas por ISTOÉ, Henrique Alves corre o risco de perder o mandato. Acusado pela ex-mulher de movimentar US$ 15 milhões no Exterior, foi abandonado à própria sorte. Limitou-se a dizer que o patrimônio alardeado por ela era “delírio”. Também não esclareceu as ligações para o banco suíço UBP e tampouco explicou as contas no Lloyds Bank e em paraísos fiscais. Na quinta-feira 23, o líder do PT, João Paulo (SP), pediu a abertura do processo de cassação contra Henriquinho. “As denúncias da ISTOÉ estão descritas com provas. Temos que apurar tudo”, defende o líder petista.