Ivan Sant’Anna é um daqueles seres irrequietos, que não poupam esforços ou riscos para encontrar respostas a perguntas que a maioria das pessoas prefere nem fazer. Para realizar seu mais recente livro, Carga perigosa (Objetiva, 320 págs., R$ 29,90), durante 15 dias ele percorreu seis mil quilômetros
de estradas entre os Estados de São Paulo e Rondônia, na carona de um caminhoneiro de
quem ouviu as histórias que permeiam um
universo geralmente inimaginável.

O resultado da jornada por estradas, restaurantes e postos perdidos nos confins das rotas de carga é um delicioso romance policial que envolve caminhoneiros assassinados, tráfico de drogas, corrupção, jornalistas e até os laboratórios e arquivos do FBI, o onipresente escritório americano de investigações federais. Algum sexo e muito realismo completam a receita de um livro que o leitor só consegue largar na última página. É uma ficção que reflete com crua virulência a realidade vista pelo Brasil inteiro nos pasteurizados noticiários de televisão.

Envolvidos nas mortes de Dimas, Raimundo, Aderaldo e Consolação, estão os políticos e caciques de maior ou menor expressão e seu secular hábito à impunidade. Igualmente ali estão, travestidas pela ficção, mas facilmente identificáveis pelo telespectador comum, as denúncias que revoltam o brasileiro na hora do jantar. E, não por acaso, há também um aceno para a possibilidade de toda essa sujeira um dia vir a ser apenas fantasia de um autor de fértil imaginação.


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