Nos anos 60, os sócios dos Diários Associados, que pertenciam a Francisco de Assis Chateaubriand (1982-1968) – à época o homem mais poderoso do setor de comunicações –, encomendaram ao pintor paulistano Wesley Duke Lee um quadro de Chatô. No papel de um dos organizadores do movimento Realismo Mágico, o artista criou a obra A zona: as considerações (1968), num estilo que mais tarde viria a ser conhecido como instalação. O trabalho não agradou aos autores da encomenda. Com outra visão sobre arte, Gilberto Chateaubriand, filho de Chatô, hoje o maior colecionador privado de arte brasileira, adquiriu a instalação e a reuniu à sua coleção de mais de quatro mil obras, há dez anos mantidas em comodato no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro. Do acervo foram pinçados 120 retratos para a mostra Identidades: o retrato brasileiro na coleção Gilberto Chateaubriand, em cartaz no MAM a partir da sexta-feira 7.

É uma idéia engenhosa conceber a exposição com retratos e auto-retratos de artistas famosos, entre pinturas, gravuras, desenhos e instalações. Trata-se de um panorama que abrange desde o ano de 1917 até os dias atuais. A intenção não é reunir ismos ou períodos históricos, mas sim criar uma leitura visual para o conjunto das obras, como observa o curador Fernando Cocchiarele. “Só é considerado retrato o quadro que tem identidade”, afirma ele. O público vai se deliciar com as imagens. Bons exemplos são o auto-retrato de Alberto da Veiga Guignard (1961) ou o singelo desenho do poeta Carlos Drummond de Andrade, assinado por Tarsila do Amaral. “A exposição oferece uma oportunidade de se perceber como essa vertente vem se transformando em quase um século de produção artística”, lembra Cocchiarele. Também vale a pena destacar o retrato que Djanira fez do pintor Milton Dacosta (1940); o auto-retrato de Antônio Bandeira (1950); e o retrato do poeta Murilo Mendes por Flávio de Carvalho (1951).

Uma curiosidade, entre tantos trabalhos tradicionais, é o auto-retrato pintado por Carlos Zílio, em 1973. O artista penou nos porões da ditadura militar. Sua obra se resume a um borrão de tinta vermelha sobre tela branca, como se fosse uma mancha de sangue. Adriana Varejão é outra que comparece com uma obra original, distinguindo-se das demais: Canibal e nostálgica, uma fotografia digital de 1996, que sugere a integração entre pintura e a arte das lentes.


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