difícil acreditar que o escritor e dramaturgo Jean-Claude Carrière, aquele mesmo que por duas décadas trabalhou com o irreverente cineasta espanhol Luis Buñuel, sendo responsável por roteiros de clássicos ferinos do cinema, como O discreto charme da burguesia e A bela da tarde, tenha escrito este O círculo dos mentirosos (Códex, 420 págs., R$ 42). É um livro fraco, por mais que na introdução o autor tente revestir de alguma erudição e lógica o apanhado de historinhas, as mentiras que, repetidas à exaustão por milênios, formaram a teia de moral e superstição entrelaçadas por todas as culturas. Como se não bastasse, Carrière também cansa o leitor com tantas armadilhas de nonsense espargidas ao longo dos capítulos.

Ninguém que tenha mais de 12 anos consegue ler a fábula do escorpião que, com sua má índole, mata o sapo que o ajuda a atravessar o rio. Muito menos quando a mesma fábula é contada em duas ou três versões diferentes. As curtas histórias típicas da filosofia zen, que dentro de seu contexto original pretendem levar as pessoas a uma meditação profunda sobre o sentido da vida, soam simplesmente absurdas quando alinhadas na sequência de várias outras esquisitices envolvendo eremitas em crise, dervixes meditabundos e piedosas almas ameaçadas pelas tentações do maligno. Em suma, uma grande bobagem.