Quando em sua estréia nas telas, há 20 anos, Eddie Murphy levou o primeiro safanão de Nick Nolte no filme 48 horas, ele inaugurou o estilo negro malandro versus branco durão, consagrado nas três partes de Um tira da pesada, que gerou imitações como a tetralogia Máquina mortífera, estrelada por Mel Gibson e Danny Glover. Em Showtime (Showtime, Estados Unidos, 2002), em cartaz nacional, Murphy repete a fórmula, só que desta vez ao lado de Robert De Niro. Na pele de Trey Sellars, o comediante é um ator amador que ganha a vida como policial. Cara-de-pau ao extremo, fornece pistas de suas diligências medíocres com o intuito de ser filmado em campo por uma rede de tevê. Numa destas empreitadas, acaba prejudicando a investigação sigilosa conduzida pelo irascível detetive Mitch Preston (De Niro). Irritado, Preston se descontrola e destrói a câmera da emissora. Sob ameaça de uma indenização milionária, a polícia de Los Angeles se vê obrigada a ceder Preston para um reality show no qual tem de contracenar com Sellars, a quem simplesmente odeia.

O tal programa se transforma num sucesso, mas prejudica de vez a caçada real ao assassino dando chance ao espectador de soltar algumas gargalhadas. Nesta história, Murphy tirou férias do seu lado família e voltou a encarnar o sujeito que não mede esforços para se dar bem. De Niro continua apostando com Jack Nicholson para ver quem consegue representar o personagem mais mal-humorado e preguiçosamente mal interpretado. O ator de 59 anos cede ao companheiro de cena o lugar no centro da ação. Nada mais adequado para a incontinência verbal de Eddie Murphy, que, novamente, se prepara para dublar o burro falante na sequência de Shrek.


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