Para um país ocasionalmente varrido por furacões e constantemente ameaçado por serial killers, a idéia de se manter em cada residência um refúgio seguro, blindado, inexpugnável não chega a ser um delírio paranóico. Portanto, a publicidade em torno do filme O quarto do pânico (Panic room, Estados Unidos, 2002) – cartaz nacional a partir da sexta-feira 7 – nem precisava ter apelado para exemplos de castelos fortificados da Idade Média. Apesar de que, ao colocar Jodie Foster como a mãe Meg Altman e Kristen Stewart no papel da filha Sarah, trancadas num cômodo para fugir de malfeitores, o diretor americano David Fincher criou uma situação típica de alerta máximo. Fincher é bom no assunto. Aprendeu a lidar com a violência em Seven – os sete pecados capitais e O clube da luta, e com a fúria feminina em Alien 3 – o resgate. Sem contar que dirigiu vários clipes de Madonna.

A aflição vivida pela personagem de Jodie Foster, na verdade, todo espectador de cinema já viu nas telas. Repete as mesmas situações de impotência enfrentadas pela paralítica Mrs. Hilyard, de Olivia de Havilland em A dama enjaulada (1964), e pela cega Suzy Hendrix, papel de Audrey Hepburn em Um clarão nas trevas (1967). Com a diferença de que a raiva de Meg é ainda mais devastadora, depois que seu marido a trocou por uma mulher mais nova. Mas, para não transformar o filme num pesadelo claustrofóbico, o diretor Fincher optou por apresentar os vilões Burham (Forest Withaker), Raoul (o astro country Dwight Yoakam) e Junior (Jared Leto) de um jeito menos cruel. Eles são sanguinários,
sim, mas de tão disfarçados na sua maldade ficaram parecidos
com Os Três Patetas.