Empresário e líder do setor têxtil,
Paulo Skaf, 48 anos, pai de cinco
filhos, esportista, participante ativo de projetos sociais, está a um passo de ocupar a mesa de Horácio Lafer Piva (dois mandatos) na presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Ele se sustenta no apoio das bases, assegura que não é uma “zebra”, apresenta números que já lhe dão a vitória sobre Cláudio Vaz e planos de sacudir aquele prédio imponente da avenida
Paulista, onde habitualmente seus dirigentes são espectadores e críticos do
que se passa lá fora. Skaf quer pôr a instituição na roda das discussões econô-
micas do País e, em vez de reclamar, agir para que participe da urgente retomada
do crescimento – incluindo aí as microempresas. Ao mesmo tempo, articula a formação do Conselho Estratégico Superior da Indústria, do qual já fazem parte empresários como Paulo Setubal, Benjamin Steinbruch, João Guilherme Ometto e Mario Barbosa. Seus planos:

ISTOÉ – O que seduziu o sr. para se candidatar à presidência da Fiesp?
Paulo Skaf –
São duas fortes razões. Primeiro que eu não pedi para ser candidato. Houve um convite de diversos líderes empresariais da capital e do interior, de vários setores. Eles entendiam que eu teria o perfil adequado para presidir a Fiesp e o Ciesp. Isso é importante porque a candidatura nasceu com a legitimidade vinda da base, espontânea, limpa, de forma natural. Não foi uma candidatura imposta por ninguém, mesmo porque o tempo do imperador romano Cesar, que indicava seu sucessor e todos se curvavam, já foi. O meio empresarial está bastante maduro, sabe o que quer, e nós precisamos fazer um trabalho revolucionário. A outra grande razão é que eu sinto que o Brasil está precisando rapidamente entrar numa era de desenvolvimento, de crescimento. Está precisando que uma entidade de classe como a Fiesp/Ciesp cumpra seu papel.

ISTOÉ – Qual seria o papel dessas entidades?
Skaf –
A meu ver, o papel do presidente da Fiesp não é ser crítico de fatos
ocorridos ou lamentar o leite derramado. Nós temos que ter um trabalho muito
mais pró-ativo, temos que nos antecipar aos fatos, defender projetos que realmente sejam do interesse da Nação, temos que ter um projeto para o Brasil. Até porque se costuma dizer que 40% do PIB industrial está instalado geograficamente em São Paulo. Então nossa responsabilidade é bastante grande em relação à indús tria brasileira. Acho que devemos respeitar os limites, temos que ter parceria com outras federações de indústrias. A Fiesp cumprir seu papel significaria, acima de tudo, ter um projeto nacional. Esse projeto teria, em primeiro lugar, a presença da indústria dentro da Fiesp.

ISTOÉ – Mas não é isso que é a Fiesp?
Skaf –
O que se percebe hoje é que o pequeno vê a Fiesp como a casa dos gran-des e os grandes vêem a Fiesp como uma entidade que muitas vezes não resolve seu problema e ele vai resolver por conta própria. Temos que unir a indústria para trazê-la para dentro de casa, a pequena, a média, a grande, empresas nacionais de capital estrangeiro. Nós não podemos ser uma ilha. Temos que dar as mãos para a agricultura, o comércio, para instituições sérias, para a Assembléia Legislativa de São Paulo, Câmara dos Deputados, o Senado, criarmos parcerias. Enfim, ocuparmos espaço e adquirirmos poder verdadeiro, força para que a Fiesp não fique na sala ao lado, que passe a participar da sala de decisões. Não ir lá para reclamar, mas para levar projetos factíveis dentro dos parâmetros éticos e legais e força suficiente para que esses projetos virem realidade. Tudo com a intenção de colocar o País na rota de crescimento, que nós já esquecemos. Faz 20 anos que o Brasil esqueceu o que é crescimento. O crescimento durante esse período foi de 1,9%, quando o mundo cresceu 2,8% e a China, 7,5%. Enquanto a China teve aumento de crédito, rebaixa de carga tributária e de juros, nós tivemos diminuição de crédito, aumento de juros e da carga tributária. Estamos na contramão.

ISTOÉ – Uma crítica recorrente à Fiesp é de que se trata de uma instituição imóvel, sem influência nas decisões econômicas do País. O que o sr. pensa sobre isso?
Skaf –
Eu acho que a Fiesp tem que se preocupar com a palavra resultado. Muitas vezes, até são discutidos conceitos, projetos, muita choradeira, mas não há uma preocupação com resultados. Nesses cinco anos e meio à frente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) foi feito um trabalho com foco no resultado. Por exemplo, diante da possibilidade de haver problemas com as cotas que os europeus nos impunham em 2002, não sossegamos enquanto não foi aberta uma negociação bilateral. Nós conseguimos o que queríamos. O nosso foco foi sempre em resultados, não nos contentamos em apenas discutir princípios sem a preocupação de que as coisas aconteçam. Não adianta uma entidade de classe que fica trabalhando intramuros, discutindo seus problemas internos. Temos, sim, que pôr a Fiesp para trabalhar para fora, defendendo os interesses do Brasil e da indústria.

ISTOÉ – Como é que esses interesses podem coincidir?
Skaf –
O Brasil precisa crescer, produzir, exportar, empregar, desenvolver regiões, desenvolver tecnologia. E tudo isso quem faz é a indústria. Defendendo a indústria, eu defendo o Brasil. É uma bandeira ótima. E é isso que a gente sente que não vem acontecendo. Eu não gosto de criticar presente e passado. A nossa energia vai se concentrar no futuro.

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ISTOÉ – Ao antecipar o registro de sua chapa, tudo indica que o sr. já ganhou a presidência da Fiesp, ainda que a eleição seja em agosto. É isso mesmo?
Skaf –
A nossa chapa da Fiesp está com 79 delegados eleitores, representando 79 sindicatos, dos quais três não têm direito a voto, embora filiados. Restariam, então 76 eleitores. Nós temos ainda mais dez sindicatos que nos apóiam, mas que preferiram não constar na chapa. Se a eleição fosse hoje, nós teríamos entre 85 e 90 votos, num colégio eleitoral que está variando de 122 a 125. Portanto, nós estamos trabalhando com muita folga. Acho que nunca devemos falar “já ganhou” ou coisas do gênero. Isso não é bom. Mas, de forma bem realista, o que está ocorrendo é, historicamente, muito novo na Fiesp porque, primeiro, registramos a chapa com uma semana de antecedência do prazo- limite, o que nunca havia ocorrido. E, segundo, com a maioria absoluta dos votos.

ISTOÉ – Sua vitória seria uma “zebra”?
Skaf –
A nossa chapa tem uma grande representação empresarial, de cadeias produtivas e das diversas regiões do Estado. Eu não posso dizer que seria uma “zebra” uma candidatura que tem o apoio da base, com toda a legitimidade da base, ganhar a eleição. Zebra seria o oposto, uma candidatura que foi imposta, que foi colocada goela abaixo. Além da força de voto, temos a representatividade empresarial.

ISTOÉ – Quem ganha a eleição da Fiesp também ganha a do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo, o Ciesp?
Skaf –
Além da eleição da Fiesp, que comanda o Sesi e o Senai de São Paulo, temos o centro das indústrias, entidade que está distribuída em 41 regionais, reunindo em torno de sete mil empresas. Como a eleição do Ciesp é pulverizada, fica difícil prever. São duas eleições distintas. Historicamente, sempre essas unidades estiveram unidas, e o que nós temos sentido nessas viagens que temos feito é uma receptividade fantástica para a nossa candidatura.

ISTOÉ – Qual a situação da indústria hoje?
Skaf –
De 1900 a 1970, o Brasil teve o maior crescimento do mundo. Em compensação, nas duas últimas décadas, nós passamos para a 93ª posição. Nessas duas décadas, nós tivemos aumento de impostos, redução de crédito, aumento de juros. Vinte anos atrás, o crédito representava 80% do Produto
Interno Bruto (PIB), hoje é 28%. A microempresa, apesar de sua grande importância por empregar 60% do contingente de trabalhadores e ser responsável por 20% do PIB, toma apenas 10% de crédito. Nós temos vivido com os juros mais altos do mundo há 15 anos. O Brasil exportava, 20 anos atrás, US$ 24 bilhões, enquanto a China exportava US$ 19 bilhões. Hoje, a China deve fechar com quase US$ 500 bilhões e no Brasil estamos torcendo para chegar nos US$ 80 bilhões. A carga tributária, que era de 16% do PIB, hoje é de 36%. E se nós levarmos em conta que educação, saúde, segurança, previdência se paga à parte, nossa carga tributária vai muito além dos 40%.

ISTOÉ – Ou seja, o País está paralisado há 20 anos?
Skaf –
Em todos esse anos vigorou uma política monetarista, que continua, e quem produz teve a sua vida só dificultada em todos os sentidos, sem crédito, com juros altos, carga tributária crescente, burocracia, problemas de infra-estrutura e com inúmeras regras, leis, portarias que dificultam muito a vida de todo mundo. Então, como é que está a indústria hoje? Está sufocada, desestimulada. O que nós precisamos, em vez de ficar só reclamando? Precisamos entrar na rota do crescimento, e para que isso aconteça a indústria precisa crescer. E a indústria crescer não é só chegar e falar vamos crescer. Crescimento é estado de espírito, é confiança, crença. Você tem que acreditar que vai investir aqui hoje e lá na frente terá um retorno, retorno que seja superior ao retorno especulativo. Enquanto houver condições de aplicar no mercado financeiro e não ter risco nenhum com retorno maior, ninguém aplica na produção, no trabalho


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