Com 200 mil metros quadrados numa ampla área em elevação, o Parque da Bela Vista, situado no bairro de Olaias, zona norte de Lisboa, tem outros atrativos além da localização privilegiada. Seu descampado coberto de grama, com capacidade para mais de 100 mil pessoas, se oferece como um anfiteatro natural. Expert no assunto, foi só bater o olho no local para o empresário carioca Roberto Medina decidir que lá aconteceria o Rock in Rio-Lisboa – por um mundo melhor. Até o domingo 6, a Cidade do Rock lisboeta vai receber 70 atrações. Desde a abertura na sexta-feira 28, já se apresentaram o ex-beatle Paul McCartney e o inglês Peter Gabriel, entre outros.

Contudo, mesmo tendo nomes de peso como McCartney e Gabriel, o Rock in Rio-Lisboa não transpirou o mesmo entusiasmo e clima de festa das três edições cariocas, atraindo um público de 46,5 mil no primeiro dia e de 52,3 mil no terceiro, contra os 160 mil pagantes na estréia da mais recente edição brasileira, em 2001. A temperatura noturna em torno dos 17º C pode ter contribuído. Mas os portugueses acham que está fixe, ou seja, maneiro na gíria local. Medina aposta num desfecho apoteótico, já que a noite mais procurada é justamente a última, quando se apresentam a brasileira Ivete Sangalo, o espanhol Alejandro Sanz, a americana Alicia Keys, o inglês Sting e o português Pedro Abrunhosa. “Nesse dia vamos atingir facilmente os 100 mil ingressos”, aposta o idealizador do festival de 25 milhões de euros, que agora vira marca internacional.

No impecável show de Paul McCartney, que pela primeira vez se apresentou em Portugal, a grande maioria, como esperado, era de quarentões e cinquentões. Ao tocar Yesterday, para surpresa geral, o fab four contou que a compôs numa viagem de carro de Lisboa ao Algarve. A platéia foi ao rubro, quer dizer, à loucura. A garotada, no entanto, parece estar à procura de novidades mais quentes. Era o caso do estudante de engenharia eletrotécnica Hugo Barbosa, 18 anos, morador da cidade do Porto, que fez uma viagem de três horas de trem só para assistir à eficiente mistura de soul, reggae e blues do americano Ben Harper.

Sem lugar para ficar em Lisboa, Barbosa ia esperar o amanhecer para pegar
de volta o “comboio”. Mesmo recurso usado pelas amigas Ana Pires, 19 anos, estudante de informática, e Suzana Melo, 21, estudante de pedagogia. As duas
são de Braga, Norte de Portugal, e viajaram cinco horas para curtir a banda de
metal gótico Evanescence, liderada pela insinuante Amy Lee. Por enquanto, a participação canarinho vai indo bem. Gilberto Gil conseguiu levantar poeira. O mesmo aconteceu com Charlie Brown Jr. Na platéia, os irmãos cariocas Leonardo, 23 anos, e Rodrigo Loureiro, 21, que moram com os pais na cidade de Viseu, mostravam certo desdém. “Falta um pouco de festividade”, reclamou Leonardo. De férias em Lisboa visitando os parentes, o estudante carioca de administração Rafael Matias, 26 anos, aposta na performance incandescente de Ivete Sangalo e critica o lado ordeiro dos portugueses. “Aqui, eles chegam muito em cima da hora. Se fosse no Rio de Janeiro, bem antes já estava tudo lotado”, disse ele, enquanto exibia uma camisa da Seleção autografada por Ronaldinho. Na verdade, o troféu tinha outra função. Repetia que por mil euros faria negócio.