Ironman não é uma brincadeira para qualquer um. Nadar 3,8 quilômetros, pedalar 180 quilômetros e correr uma maratona de 42 quilômetros é tarefa para hércules. Mas, ao que parece, esses superdotados estão se multiplicando. Quem passasse no dia 29 de maio pelo elegante balneário de Jurerê, ao norte de Florianópolis, iria se deparar com quase mil deles. Ali foi disputado o 4º Ironman Brasil, a mais importante e a única prova na América Latina que concede vagas para o Ironman do Havaí, a meca dos triatletas. A organização e a estrutura do evento impressionaram os 960 participantes, mais de 500 deles estrangeiros. O número de inscritos foi recorde. Prova incontestável de que o esporte não pára de crescer. “Demos uma repaginada no evento e os resultados foram muito satisfatórios. Passamos a certeza de que o Brasil é capaz de organizar um grande evento internacional”, diz Carlos Alberto Galvão, diretor executivo da competição. A vitória na elite masculina foi do alemão Olaf Sabatschus. Na feminina, a carioca Fernanda Keller obteve seu primeiro triunfo na ilha catarinense. Mas o simples fato de completar a prova tem um inigualável sabor de vitória.

Que o diga o incansável Serafim dos Anjos Silva. Depois de passar 14h06min10s nadando, pedalando e correndo, seu Serafim se mandou para a rodoviária e atravessou a madrugada no ônibus que o levou a Porto Alegre. Ao chegar à capital gaúcha, às oito da manhã, já estava na linha de largada para a XXI Maratona da cidade. “Eu uso os princípios da física quântica e os da teoria de Einstein no meu corpo. Não tenho a cultura da matéria. Estou na 5ª dimensão”, diz o empresário e ex-professor universitário. Na turma do Ironman, em português “homem de ferro”, exemplos como o do seu Serafim são a regra. Na edição 2004, 50 triatletas garantiram vaga para a competição do Havaí. Entre eles Adir Buschmann. Esse simpático senhor de 77 anos é um caso a ser estudado. Na verdade já o é. O mais velho competidor inscrito no Ironman é objeto da tese de mestrado do estudante Patrick Coquerel, da cátedra de ciência do movimento humano da Universidade de Santa Catarina (Udesc). Ele quer saber de onde Adir Buschmann tira tanta disposição numa idade em que a maioria das pessoas tem dificuldade até para buscar um copo d’água. Seu Adir se diverte com o interesse do estudante. Aliás, esse parecer ser o seu grande segredo. “Sou um gozador. Procuro fazer tudo com humor e dedicação”, diz o velho porreta, como se auto-intitula.

Porreta também é Rivaldo Martins. Há 18 anos, o atleta perdeu a perna em um acidente de carro. Tragédia para muitos, o infortúnio foi encarado como mais um desafio a ser vencido. Rivaldo, que usa uma prótese de fibra de carbono, é uma das esperanças de medalha no time brasileiro que irá aos Jogos Paraolímpicos de Atenas, que serão disputados logo após a Olimpíada convencional. Competirá no ciclismo. “Hoje, sou muito mais feliz do que era antes. Até ir ao supermercado me dá prazer”, diz o atleta de Santos, litoral de São Paulo. De qualquer forma, Rivaldo já é medalha de ouro na categoria superação.