Parece desenho de Tom e Jerry. Homens e mulheres brigam o tempo todo, reclamam de um sem-número de manias, fazem suas intrigas e seu charme, mas não deixam nunca de correr atrás uns dos outros. Se eles são muito rígidos, elas pedem homens mais sensíveis. Se eles se emocionam, elas sentem falta de um cara bem resolvido. Se elas não reclamam quando eles saem para beber com os amigos, eles pensam que é pouco-caso. Se elas resolvem acompanhá-los ao campo de futebol, eles reclamam
do grude. Com tantos desencontros, o que faz com que ho-
mens e mulheres continuem tão aplicados em conhecer os segredos dos relacionamentos? Muda o século, o governo, mas permanece a busca pela cara-metade. Para isso,
cada um elabora suas estratégias e vasculha a própria intimidade em busca de munição para competir no severo mercado amoroso. À medida que o Dia dos Namorados se aproxima, a temporada de caça atinge seu auge. Aos olhos dos solitários, o mundo se divide entre os que têm e os que não têm companhia.

Se fosse possível, em um passe de mágica, descobrir o que os outros querem, tudo seria mais fácil. Mas onde estaria a graça? Na falta de um mapa do tesouro, pesquisas, estudos e livros se dedicam a explicar o que vale pontos na arte da conquista e da manutenção de um relacionamento. Uma das mais recentes enquetes, realizada pelo instituto de pesquisas Ipsos World Monitor, mostrou que as aspirações de homens e mulheres não são tão diferentes quanto se imagina. Cada entrevistado tinha de escolher, entre quatro alternativas, qual a característica mais importante em um namorado (ou namorada). Eles e elas concordaram: o mais importante é que o parceiro seja carinhoso e sensível. Somando-se os resultados obtidos nos dez países onde foi feita a pesquisa, 51% dos homens e 52% das mulheres consideram carinho e sensibilidade os principais elementos, à frente de senso de humor, boa aparência e boa remuneração. No Brasil, a busca por mulheres carinhosas e sensíveis é ainda maior do que a procura por homens com as mesmas qualidades. O quesito foi considerado o mais importante por 59% dos homens e 55% das mulheres do País.

Para entender essa diferença, vale notar que carinho e sensibilidade têm significados diferentes para cada sexo. O psiquiatra paulista Luiz Cuschnir, especialista em gêneros, acha que, para a mulher, vale a companhia
e a atenção, enquanto, para o homem, as características tradicionalmente femininas, de cuidado e delicadeza, são aspectos imprescindíveis. “Homem carinhoso e sensível é o que não troca a companhia dela pelo boteco e o que respeita o desejo e os limites sexuais da parceira. A mulher convive tradicionalmente com um histórico de violência e abandono. O homem, ao pedir mulheres carinhosas, faz um apelo: ‘Tenha carreira, independência, mas não deixe de ser mulher. Não quero casar com um executivo!’”, elabora.

Cuschnir acaba de lançar o livro Os bastidores do amor (editora Alegro), no qual aproveita algumas das questões apresentadas por seus pacientes e pelos participantes dos grupos de gênero (reuniões femininas e masculinas nas quais se discute o significado de ser homem ou mulher hoje) que ele coordena no Hospital das Clínicas de São Paulo. O psiquiatra afirma que as mulheres, ao conquistar poder profissional e econômico, passaram a fazer exigências na busca por um parceiro. “Embora reclamem mais da falta de namorado, elas estabelecem os quesitos que consideram importantes, montam um perfil de homem e descartam aqueles que não se encaixam nesse perfil”, repara.

Beleza – No rol de exigências estabelecidas pelas mulheres, a mesma pesquisa realizada pelo Ipsos destaca o crescimento da preocupação brasileira com a aparência masculina. Em nenhum outro país, a porcentagem de mulheres que consideram a aparência o fator mais importante no homem foi tão próxima à porcentagem de homens que disseram o mesmo. A aparência é o principal fator para 12% dos brasileiros e para 10% das brasileiras, enquanto, lá fora, o número de homens que valorizam esse quesito é em média três vezes maior do que o de mulheres. Para o psiquiatra paulista Flávio Gikovate, especialista em amor e relacionamento, isso não quer dizer que elas desenvolveram desejo visual, coisa que, segundo os cientistas, é traço da personalidade do macho. “Mas a beleza do homem virou valor cultural. A mulher com um namorado bonito está mais bem situada perante o grupo”, diz ele. “Há dez anos, só as mulheres iam à academia. Hoje os homens que cuidam da aparência fazem sucesso. Mas é modismo. A valorização da aparência masculina deve diminuir. O que vai permanecer é a sensibilidade, o carinho, o caráter, que são elementos importantes no convívio.”

Não se pode confundir o que causa atração com o que sustenta uma relação. “A gente é atraído, normalmente, pelas coisas que nos faltam e que nos complementam. Mas a continuidade do namoro é mais racional, pede mais afinidades”, diz Gikovate. E, nesse ponto, homens e mulheres vivem o mesmo. O que é importante no primeiro encontro cede espaço para sentimentos como sensibilidade, carinho e companheirismo. “Quem acha que a sexualidade do parceiro é suficiente quebra a cara. Na verdade, isso só vale para os primeiros encontros. Os homens sabem disso. Dizer que eles não são românticos é uma falácia criada pelas mulheres. Se fosse assim, toda a poesia, a literatura e a música romântica feitas por homens não existiria”, completa.

Quando aflora, a sensibilidade masculina desperta fascínio entre as mulheres. Uma pesquisa realizada pelo Qualibest, a pedido de ISTOÉ, apontou a preferência delas por homens que se interessam por vinhos, arte e gastronomia. Das mulheres entrevistadas, 41% disseram valorizar muito homens que se interessam por vinho, enquanto 45% valorizam um pouco e 14% se mantêm indiferentes. O interesse por gastronomia é muito disputado por 48% delas, ao mesmo tempo que 46% valorizam um pouco e apenas 6% não valorizam nada. Tudo isso contribui para formar uma nova cultura de aproximação, apesar de alguns traços tradicionais permanecerem. “As mulheres ainda esperam que os homens sejam cuidadosos com elas”, nota Margareth de Mello Ferreira dos Reis, terapeuta de casais no Instituto H. Ellis, de São Paulo. “Claro que os homens também querem mulheres que cuidem deles. Mas isso eles encontram com mais facilidade. As mulheres são educadas para cuidar. Os primeiros brinquedos são bonecas, que precisam ser trocadas, acariciadas. Os homens muitas vezes confundem carinho com preliminares. São carinhosos quando querem sexo, mas não têm a mesma ternura fora dos momentos de intimidade”, diz.

Como as características subjetivas só são descobertas com o tempo, existe uma série de coisas que podem fazer a diferença na relação, ou mesmo na atração, e podem ser facilmente verificadas. A mesma pesquisa do Qualibest mostrou, por exemplo, que a mulher ter uma carreira é importante para 59% dos homens, enquanto 50% deles acha importante ela ser boa dona-de-casa. Também trouxe dados curiosos, como a satisfação com o silicone – 63% deles são atraídos por seios turbinados – e a rejeição a homens mulherengos – 81% delas rejeitam homens galinhas.

Esses são alguns detalhes que fazem a diferença na hora da aproximação. Alguns, por outro lado, podem destruir um namoro antes mesmo de ele começar. Em uma época de disseminação do relacionamento virtual, quando se aproveita a internet para conhecer pessoas, desvendar os arquivos de um site de relacionamentos como o Par Perfeito é apreender alguns desses detalhes. Para fazer o cadastro, o usuário preenche um questionário onde apresenta seu próprio perfil e elabora um esboço do tipo de gente que quer encontrar. “Temos 3,5 milhões de clientes cadastrados, cerca de 60% deles entre 19 e 34 anos. Um terço tem curso superior completo e um terço, superior incompleto. Isso nos permite obter um retrato do que desperta interesse nos homens e nas mulheres”, diz a gerente de marketing Viviane Mendes. ISTOÉ reuniu alguns dos elementos reivindicados pelos usuários cadastrados na opção “relacionamento sério”. Um dos vilões apresentados, por exemplo, é o cigarro: 47,30% dos homens e 52,5% das mulheres querem parceiros que não fumem.

As pesquisas demonstram que escolher um parceiro não é atividade fácil. É necessário ser paciente e minucioso, duas coisas complicadas quando a situação é de urgência. A publicitária e escritora Cristina Von transformou esse tema em um divertido manual para moças solteiras… e desempregadas. Em Procuram-se: namorado & emprego (Disal Editora), Cristina estabelece comparações inusitadas entre os dois assuntos. “São as duas maiores preocupações das mulheres”, diz. Algumas dicas apresentadas por Cristina são as mesmas em ambos os casos. Uma delas é que todas as amigas (e amigos) devem saber que você está à procura. Não é o mesmo que distribuir currículos? A outra é investir nos amigos dos amigos. Não é mais fácil arrumar emprego por indicação? “Mas infelizmente o emprego tem sido mais valorizado do que o namoro. “A pessoa faz hora extra, aceita um salário miserável e, quando reclama, ouve os amigos dizerem para insistir. Se o problema é o namorado, todos dizem para dar o fora.”

Quem perde são os amantes. A pedagoga paulista Rosana Rodrigues Gomes da Silva escolheu o amor
como tema de seu doutorado em psicologia educacional na Unicamp. E descobriu, após pedir a 27 alunos de diferentes cursos que escrevessem sobre o que essa palavra significa, que, para todos, só é possível definir esse fenômeno pensando-se em relacionamentos. “O amor se aprende. Alguém que recebe uma prática amorosa em casa desenvolve uma atitude afetiva maior”, diz ela. Para muitos, no entanto, é difícil admitir a intensidade do sentimento. “Falar ‘eu te amo’ sugere compromisso, representa uma mudança de vida ”, considera. “O amor caminha junto com o medo,
de sofrer com a entrega ou do abandono. É mais fácil resolver as próprias questões quando se é sozinho
do que quando as questões são do casal.” Talvez seja essa a parte mais intrigante do relacionamento. Quem não quer correr o risco?