Em dez anos de existência, o grupo paulistano Teatro da Vertigem, liderado pelo diretor Antônio Araújo, realizou apenas três espetáculos. Resultado de intensa pesquisa e de um aprofundado trabalho de equipe, as poucas e memoráveis encenações foram suficientes para colocar a trupe entre as companhias mais festejadas da cena atual. Tanto que acaba de merecer uma reflexão sobre sua brilhante trajetória no bem-cuidado Teatro da Vertigem – trilogia bíblica (Publifolha, 358 págs., R$ 49). Fartamente ilustrado, o livro – impresso num formato curioso que, quando aberto, lembra as asas de um anjo – traz os textos integrais dos espetáculos O paraíso perdido, O livro de Jó, que lançou o ótimo ator Matheus Nachtergaele, e Apocalipse 1,11. Eles são antecedidos de três estudos contextualizando o trabalho do grupo e de uma série de depoimentos assinados pelo diretor, pelos atores e pelos demais criadores. Completa o estudo uma reunião de críticas.

Dos depoimentos, o mais envolvente vem do elenco, representado pela atriz Miriam Rinaldi. Intitulado O que fazemos na sala de ensaio, o texto expõe todos os passos do método da companhia. Dentre os estudos, extremamente elucidativo é Do sagrado ao profano: o percurso do Teatro da Vertigem, de Silvana Garcia, professora da USP, que vê paralelos entre os mistérios medievais e a trilogia bíblica do Teatro da Vertigem. Para Silvana, cada peça pode ser assimilada à tripartição dos ciclos dos mistérios, centrados na criação, na redenção e no juízo final. Na mesma seção, Silvia Fernandes, também da USP, examina em O lugar da vertigem a relação entre as peças e os locais públicos de São Paulo escolhidos para as encenações – O paraíso perdido, na Igreja de Santa Ifigênia; O livro de Jó, no Hospital Humberto Primo; e Apocalipse 1,11, no Presídio do Hipódromo – todas com resultados excepcionalmente fora do comum.


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