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ESPERANÇA
Novas drogas são testadas em animais criados para Michael

Se até hoje os ratinhos de laboratório eram usados apenas em estudos para a criação de remédios e terapias, agora começam a ser vendidos diretamente para pacientes. Companhias como a Champions Oncology, nos Eua, e a Oncotest, na Alemanha, estão gerando animais de acordo com a doença do paciente. Eles servem como uma espécie de campo de prova para escolher a melhor droga ou uma nova associação de remédio mais eficaz especificamente para aquele paciente. Por enquanto, o modelo tem sido usado por portadores de câncer.

As cobaias são criadas a partir de um processo complexo: elas recebem enxertos de partes do tumor do paciente, extraídas durante cirurgia ou biópsia. O americano Michael Feeney, 9 anos, é um dos que têm cobaias pessoais. Desde 2009 ele combate um câncer ósseo metastático (espalhou-se para outras partes do corpo). Em fevereiro, partes de um tumor tiradas do seu pulmão foram inseridas sob a pele de ratos. A família investiu US$ 25 mil nessas cobaias. Elas foram usadas em quatro ensaios com remédios e combinações de drogas.

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Segundo o oncologista Leonard Wexler, do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering e integrante da equipe que cuida de Michael, uma das associações testadas nos animais – e que não é normalmente indicada pelos médicos – poderá ser uma opção para o garoto se o remédio que ele está tomando falhar. “Essas cobaias personalizadas são uma forma de diminuir as suposições e evitar que crianças doentes tomem drogas tóxicas que podem não ter efeito”, disse à ISTOÉ. “Também auxiliam no encontro de remédios que possam ajudar, especialmente nas situações em que não há dados suficientes sobre novas combinações ou outras drogas.”

Pesquisadores da área, porém, veem a novidade com ressalva. “Os tumores enxertados em animais podem demorar para crescer, enquanto a doença do paciente evolui”, disse o cientista francês Charles Theillet. Trabalhos feitos por ele com tumores de mama em cobaias indicaram uma compatibilidade genética com os tumores originais, do paciente, de 80%. O site da Champions Oncology indica resultados de 94% nesse campo. “Por isso mais estudos precisam ser feitos. Pode ser que nessa diferença estejam os genes que regulam os tumores. De todo modo, é uma ideia interessante, mas muito nova para ser colocada no mercado”, diz Sílvia Rogatto, do Hospital A. C. Camargo, em São Paulo.

Apesar da polêmica, a procura pelas cobaias está crescendo. “O custo caiu. Agora custa US$ 1,5 mil para expandir os tumores nos ratos e US$ 3,5 mil por experimento de drogas”, disse Wexler à ISTOÉ.

Fonte: Champions Oncology
Foto: Chang W. Lee/The New York Times