Segundo o dicionário, virose “é uma enfermidade causada por vírus”. Mas experimente dizer apenas isso para pais aflitos por causa do filho com febre, manchas e dores. Na verdade, o nome tem sido usado como diagnóstico para males de sintomas parecidos e cujos agentes não são facilmente detectados. Normalmente, não se investe num exame específico para apontar o invasor porque até sair o resultado a pessoa já se recuperou, muitas vezes sem remédio. Por isso, pode-se concluir que a virose é o diagnóstico dos sem-diagnóstico. “Fala-se que uma pessoa pegou virose por exclusão. Se não foi feita a identificação por meio de testes e se o exame clínico não aponta uma doença específica, essa é a avaliação”, explica Reinaldo Salomão, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A rigor, a virose pode ser de caxumba à Aids (já que são infecções virais). Para a população, no entanto, ela significa confusão. Afinal, frequentemente os sintomas de uma doença são parecidos com o de outras. De qualquer forma, os especialistas estão notando que algumas viroses estão se destacando mais do que outras. Neste ano, por exemplo, suspeita-se de surto causado por um agente de nome esquisito: o coxsachevirus. Os sinais da infecção são febre, gânglios aumentados, lesões de pele e até meningite. É possível que haja um surto porque se notou que o número de pessoas infectadas cresceu em relação a outros anos. “Houve um aumento de casos principalmente entre adolescentes e adultos jovens. Alguns pacientes fizeram o exame específico para esse vírus, disponível em poucos laboratórios”, conta a pesquisadora Nancy Bellei, especialista em vírus respiratórios.

Outra virose conhecida que também continua atacando é a causada pelo citomegalovírus. Ele costuma atingir crianças, às vezes se assemelha à gripe, mas em geral passa desapercebido. A doença só é grave de fato em pessoas que estejam com o sistema de defesa bem debilitado, como pacientes com Aids ou transplantados. Nesses casos, pode causar infecções intestinais sérias e até levar à cegueira. Também é arriscada quando a mulher se contamina durante a gravidez – o bebê pode ter problemas de desenvolvimento. Há também a mononucleose, provocada pelo vírus conhecido como epstein-barr. Seus sintomas mais comuns são lesões de pele, gânglios inchados e febre. “Essas viroses têm nome porque dispõem de um exame que as detecta”, explica Sandra Campos, professora da Unifesp. Mesmo assim, as respostas da medicina contra elas ainda são poucas. Em geral, apenas os sintomas são tratados e espera-se que o mal simplesmente passe.

Entre as viroses “anônimas”, uma delas tem circulado mais ultimamente. Ela ataca o aparelho digestivo e faz estragos. “Temos visto muitas pessoas com sintomas semelhantes, como diarréia, febre e vômito”, relata Sandra. O crescimento das queixas não quer dizer que os vírus estejam mais fortes. O fenômeno é resultado de alguns fatores. Em geral, a população está vivendo mais em locais fechados, portanto mais sujeitos à contaminação. E também está mais cansada, mal alimentada e estressada, circunstâncias que levam ao enfraquecimento das defesas do corpo. “A resposta à infecção depende de como estamos. Ela pode ser banal em alguns e forte em outros”, afirma Salomão. Com a professora paulistana Adriana Carvalho, 25 anos, que pegou a tal virose que atinge o estômago, o caso foi sério. “Passei dez dias sem comer direito. Tudo que ingeria acabava pondo para fora. Só conseguia consumir cenoura e batata”, comenta. Para evitar dramas como esse, uma dica é atentar para a prevenção. Deixe o ambiente arejado e lave bem as mãos para diminuir o risco de contágio. E, se alguém estiver doente, diminua o contato com outras pessoas.