Na semana passada, o Instituto de Medicina da Academia Americana de Ciências deu uma ótima notícia aos amantes da boa mesa. A entidade divulgou a nova proporção ideal de carboidratos, gorduras e proteínas que deve estar presente no cardápio diário de quem deseja se manter saudável. E, para a alegria dos que prezam o paladar, as porcentagens permitidas desses grupos de alimentos ficaram mais flexíveis do que as que serviam de referência até agora.

Antes, de acordo com a instituição, 50% ou mais das calorias ingeridas em um dia deveriam ser fornecidas por carboidratos, como pães e massas. Recomendava-se que apenas 30% ou menos tinham de vir do consumo de gorduras (óleos, por exemplo) e 10% geradas das proteínas (abundantes nas carnes). As diretrizes anunciadas na quinta-feira 5 afrouxaram esses limites. Uma dieta equilibrada pode obter 45% a 65% das calorias necessárias com a ingestão de carboidratos, 20% a 35% de gorduras e 10% a 35% de proteínas. Ou seja, a entidade assegurou que é possível montar um cardápio saudável de acordo com as preferências individuais. Pode-se, por exemplo, comer um pouco mais de gordura e proteína, desde que se diminua, é claro, a quantidade de carboidratos. Ou vice-versa (confira exemplos no quadro).

A decisão de tornar as recomendações mais flexíveis foi tomada depois que os cientistas analisaram dezenas de estudos e concluíram que, de fato, o segredo da boa alimentação está no equilíbrio. “Pesquisas mostram, por exemplo, que, quando as pessoas ingerem pouca gordura e muito carboidrato, caem as taxas do “bom” colesterol”, afirmou a professora Joanne Lupton, coordenadora da comissão encarregada de formular as orientações (o colesterol a que a pesquisadora se refere é o HDL, conhecido por desempenhar funções benéficas ao coração). Isso acontece porque, quando as pessoas deixam de consumir gordura, elas param de comer, inclusive, a chamada boa gordura: a monoinsaturada (encontrada no azeite e no abacate, por exemplo) e a poliinsaturada (existente em óleos vegetais como o de milho). Esses compostos, na verdade, aumentam as taxas do bom colesterol. Por isso, se for comer gordura, o melhor é optar por esses gêneros.

Outra novidade foi a confirmação da importância do consumo de fibras, presentes em grande quantidade em cereais integrais, frutas e verduras. A entidade também determinou que no máximo 25% das calorias devem ser obtidas por meio do consumo do açúcar presente em alimentos industrializados, como doces.

As diretrizes agradaram aos especialistas brasileiros. De acordo com Anita Sachs, nutricionista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), esse tipo de trabalho é interessante porque reforça a necessidade do consumo de fibras e de gorduras. “Aqui, usamos pirâmides dos grupos alimentares. Mas criar um guia realmente dá uma idéia mais precisa do que as pessoas devem fazer”, diz.

Apesar disso, Anita salienta que são necessárias adaptações para os brasileiros. “Na média, nossa população come menos do que a americana. Já que a quantidade de comida é menor, também é menor o consumo de energia”, explica. Isso significa, na opinião de Anita, que o brasileiro pode até recorrer mais à gordura, pois ela é uma importante fonte de energia. Além disso, não se deve esquecer de outro ponto: a dieta precisa ser personalizada. “Um indivíduo pode comer um pouco mais de carboidrato do que outro, por exemplo, sem prejuízo à saúde. É preciso levar em conta as diferenças de cada um”, ressalta Tânia Martinez, cardiologista do Instituto do Coração, de São Paulo.